DIREITO DE RESISTIR

Na primeira hora de anteontem, uma bomba estourou na residência que é uma das remanescentes de um quarteirão, no bairro Santa Efigênia, onde está sendo construído um shopping. A explosão procurou mais susto que estragos, embora fosse a terceira vez que tal se passava nos últimos 15 dias.
A interpretação dos moradores é que estão tentando intimidá-los para que apressem as negociações com o shopping no sentido de desocupar os imóveis, mediante indenização. Com as obras, os imóveis sofreram rachaduras. A Justiça chegou a interditar as obras, mas a interrupção durou pouco.O episódio parece história de gangsterismo urbano.
Na Itália, na América e outros países, a Máfia e outras organizações criminosas usavam explosões e incêndios para intimidar os que resistiam às suas determinações. Também há casos de proprietários que resolvem afrontar o Estado e que usam daqueles expedientes.
O terror é sempre eficiente quando é exercido sobre pessoas comuns. Mas sempre houve também gente que resiste às intimidações do poder econômico. A população da serra do Cipó vem sendo coagida pelas minerações. Os moradores de áreas alagadas por barragens são tão numerosos que constituem um movimento social.
O ser humano sofre quando é obrigado a se mudar do lugar onde nasceu e viveu toda a vida ou da residência onde morou muitos anos. Por isso resiste enquanto pode, embora tenha consciência da sua fragilidade. A indenização é a forma de reparar essa perda e, por melhor que seja, muitas vezes não é considerada justa. Os moradores de Santa Efigênia estão atrapalhando o shopping. Os empreendedores querem negociar.
A resistência provavelmente será inútil. Mas o Estado de direito tem o dever de garantir o direito de resistência aos atingidos, velando para que não sofram quaisquer constrangimentos, inclusive de outros interessados. A sociedade tem de repudiar essas manifestações de capitalismo selvagem. (Editorial de O Tempo publicado em: 12/06/2009)

Comentários