Displicência social


Antônio Carlos Francisco dos Santos (*)

Pode-se falar em milhares de postos de trabalho extintos, em várias cidades e regiões de Minas

A notícia do fechamento, paralisação ou desativação de importantes empresas do setor de confecções, em Belo Horizonte, provocou e provoca comentários em diferentes segmentos da sociedade. Para os trabalhadores, sobra lamentar os postos de trabalho extintos e denunciar a displicência com que é tratada a função social das empresas. A nosso ver, uma empresa não se constrói apenas como um empreendimento capitalista. É muito mais que isso. Nomes e reputações como “Vide Bula”, “Zoomp”, “Divina Decadência”, “América Latina”, “Sputinik”, “San Marino” e outras, não são construídos apenas com dinheiro. São construídos principalmente com o trabalho duro de milhares de trabalhadores, desde os operários do chão de fábrica, até os gerentes, diretores e proprietários da marca. Assim, quando uma decisão meramente capitalista “mata” uma empresa, fica flagrante a displicência com a função social da empresa, de gerar emprego e renda e de fazer girar a roda da economia. Sem contar a não-preocupação com centenas ou milhares de pessoas desempregadas e da situação em que suas famílias se verão lançadas.
Tomando apenas o último exemplo – o fechamento, paralisação ou desativação da Vide Bula – não são apenas 141 empregos perdidos. Quando nos lembramos que a empresa terceirizava a maior parte de sua produção, pode-se falar em milhares de postos de trabalho extintos, em várias cidades e regiões de Minas Gerais. O SOAC/BH – Sindicato dos Alfaiates e Costureiras de Belo Horizonte, vai cuidar de garantir os direitos dos trabalhadores demitidos, sem dúvida. Mas, se esse ponto é importante, não é o principal. Uma empresa como essa, conhecida e vitoriosa em todo país, construída por milhares de trabalhadores, além dos investimentos de seus proprietários, não deveria poder fechar, simplesmente. O processo deveria ser discutido, as razões deveriam ser transparentes, soluções outras deveriam ser buscadas, inclusive com os trabalhadores, responsáveis, em parte, pelos sucessos conquistados pela marca.
O Estado também deveria participar do processo. Estamos vivendo gigantesca crise global, onde a preservação do emprego é buscada por todos os líderes mundiais, haja vista o discurso proferido recentemente, na Organização Internacional do Trabalho – OIT, pelo presidente Lula. Em todo o mundo, trilhões de dólares foram aportados a bancos e empresas para proteger o mercado e os empregos que gera. Por que, então, não se discutir e buscar soluções na preservação desses empregos e, também, de marcas que elevam e divulgam o nome de Minas Gerais no cenário da moda nacional? – Belo Horizonte vem perdendo importância como vanguarda da moda nacional há muito tempo. É hora de parar com as lamentações e partir para a ação. Estudar o problema, viabilizar soluções, preservar as empresas e, sobretudo, preservar e aumentar os postos de trabalho no setor. Minas e os mineiros só terão a ganhar.
(*) Presidente do Sindicato dos Alfaiates e Costureiras de Belo Horizonte e Região

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