Desenvolvimento em questão

                                                                 

Os impasses no Equador encontram paralelo em outros países, especialmente na Bolívia de Evo Morales


Igor Fuser (*)

As eleições de fevereiro no Equador trazem à cena, mais uma vez, o embate entre um governo progressista e a oposição de direita. As pesquisas indicam ampla maioria a favor da reeleição de Rafael Correa, que se tornou presidente em 2006, como resultado de uma gigantesca mobilização popular. Em seis anos, Correa conseguiu avanços que incluem a cobrança de impostos das camadas mais ricas da população, a democratização do Judiciário e a quebra do monopólio da mídia, além de uma melhoria significativa das condições de vida dos equatorianos.

Entre os demais candidatos, o único que mostra alguma chance de chegar ao segundo turno é o empresário Guillermo Lasso, porta-voz da oligarquia agroexportadora da cidade de Guayaquil. Mas boa parte da atenção está voltada para Alberto Acosta, um dissidente do bloco governista que se lançou com o apoio de entidades indígenas e ambientalistas. Pela primeira vez no atual ciclo político progressista sul-americano, um presidente de esquerda enfrenta um concorrente sério no campo popular.

A plataforma de Acosta tem como foco a crítica ao “extrativismo”. Ele condena a manutenção de um modelo econômico que enfatiza a exportação de minérios, cuja exploração, por empresas canadenses e chinesas, provoca impactos sociais e ecológicos. Pelos mesmos motivos, Acosta se opõe à construção de estradas e represas.

A disputa assinala, em primeiro lugar, a dificuldade de conciliar as tarefas indispensáveis da modernização com a concepção indígena do “bom viver”. E, num plano mais amplo, o desafio – comum a toda a América Latina – de substituir uma inserção internacional com base na exportação de produtos primários por um modelo de desenvolvimento autônomo. 

Correa justifica a exploração dos recursos naturais como necessária para garantir a saúde financeira do país e viabilizar as políticas sociais em curso. Nesse ponto, a dissidência ambientalista se cala, incapaz de apresentar uma opção viável.

Os impasses no Equador encontram paralelo em outros países, especialmente na Bolívia de Evo Morales. Em todos os contextos, é preciso ter claro que a verdadeira alternativa política aos governos progressistas não são esquerdistas revolucionários nem arautos do “bom viver”, e sim o retorno puro e simples da direita – truculenta, entreguista e predatória.


(*)Igor Fuser é jornalista, professor de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero.

Texto originalmente publicado na edição 516 do Brasil de Fato.

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