Costureira, candidata de Partido da Igualdade do Chile faz viagens de campanha de ônibus

                                                                      
 Roxana caminha solitária durante a sua campanha
                                                                                    Victor Farinelli/Opera Mundi
                                       

Crítica histórica do governo Bachelet, Roxana Miranda lamenta falta de união da esquerda chilena
    
A disputa entre mulheres na eleição presidencial chilena não se resume somente à favorita Michelle Bachelet e à candidata governista, Evelyn Matthei. Há uma terceira mulher na disputa, e talvez a sua história seja a mais chilena das que tentam chegar ao Palácio de La Moneda em 2014.

O nome dela é Roxana Miranda, tem 47 anos e vive num povoado de classe baixa na periferia de Santiago. Em sua campanha, Roxana passeia de ônibus pela capital e faz poucas viagens ao interior do país, também de ônibus, para divulgar programa de governo e o recém-criado Partido da Igualdade.

Nascida e criada num bairro pobre, viveu como costureira durante toda a vida. Em 2007, durante o primeiro governo de Bachelet, surgiu no cenário nacional como líder do Andha Chile, um movimento que reclamava das cobranças de dívidas habitacionais, que levaram muitas famílias ao despejo.

Roxana era a mais eloquente das manifestantes, chegou a tentar invadir a sala de votação do Senado e a escalar as paredes do Palácio de La Moneda, em alguns atos realizados por Andha Chile. Na época, a Concertação (aliança de centro-esquerda à qual pertence Bachelet) a acusou de ser financiada por partidos da direita, inclusive mostrando documentos que comprovavam o aluguel de transporte para eventos do seu grupo. Roxana rebate: “A elite da esquerda chilena mantém sua hegemonia assim, desqualificando a esquerda que ainda está do lado do povo”.

“Povo” é a palavra que mais se destaca na campanha de Roxana Miranda. Diferentemente dos movimentos e partidos de esquerda de outros países da região, a esquerda chilena não costuma usar o termo desde a derrubada do presidente Salvador Allende (1970-1973), o último que utilizou a expressão no país. Roxana retomou essa tradição, com seu slogan: “¡Que el Pueblo Mande!” (“que o povo mande”).

Seu programa de governo fala em luta contra o capitalismo e uma nova constituição “voltada para recuperação dos direitos sociais”. Sua campanha, além de defender essas ideias, trabalha também o conceito de organização social: “nossa vitória não será agora, este é o começo de um trabalho de criar consciência, de fazer os chilenos terem consciência de povo novamente, pensando em ganhar lá na frente”.

Nesse sentido, Roxana lamenta a falta de união dos menores movimentos de esquerda do país. No começo deste ano, houve reuniões visando o lançamento de uma candidatura única dos movimentos sociais, mas a falta de acordo entre diferentes frentes terminou com o lançamento de cinco candidaturas diferentes: a dela, pelo Partido da Igualdade, Marcel Claude (Partido Humanista), Alfredo Sfeir (Partido Ecologista Verde) e Tomás Jocelyn-Holt (independente, sem partido).

“Essa é história da esquerda chilena, uma divisão baseada em pequenas picuinhas que impedem o povo de mostrar mais força contra as pequenas elites e a coesão que elas sempre têm em torno dos seus interesses”.(Com Opera Mundi)

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