Polícia diz que vai proteger jornalistas no Chile, mas agressões continuam

Casos de tortura e sequestro contra profissionais de imprensa foram registrados nos últimos meses
Depois de agredir quase 20 jornalistas ao longo de um ano e sofrer processos pelo sequestro e tortura de dois fotógrafos, a polícia do Chile propôs nesta semana um pacote de medidas para mitigar a violência contra profissionais de imprensa.
Isso, no entanto, não impediu que jornalistas fossem intimidados e agredidos nesta segunda-feira (21/11), durante um protesto de militantes de direitos humanos contra a homenagem a um ex-torturador da ditadura Pinochet. O jornalista Victor Farinelli, colaborador do Opera Mundi no Chile, teve sua câmera fotográfica atirada no chão por um militar, que antes apagou as fotos que registravam a manifestação (saiba mais aqui). Uma reportagem publicada no início deste mês relatou a onda de perseguição a jornalistas, que também inclui prisões, espancamentos e atentados a bomba.
Diante da insegurança para o trabalho da imprensa, a Associação dos Correspondentes Estrangeiros no Chile, se reuniu no dia 15 de novembro com o coronel Ricardo Solar, da equipe de Comunicação dos Carabineros, a polícia militar chilena, na capital, Santiago. A associação documentou e denunciou ao Ministério do Interior 12 casos de jornalistas de agências internacionais de notícias agredidos pela polícia desde março de 2010. Outros oito casos envolvem jornalistas de meios de comunicação locais.
“A primeira medida é entregar aos Carabineros uma lista de todos os correspondentes e fotógrafos para que, em caso de detenção, eles possam acelerar a liberação. Isso é importante porque eles dizem que não sabem quem são repórteres fotográficos ou quem são manifestantes com câmeras”, disse o presidente da associação, Mauricio Weibel.
Efe

Fotógrafo da agência Efe perdeu um olho após levar um golpe de cassetete em 2008
Fotógrafos a serviço de agências internacionais detidos pela polícia chilena relataram espancamentos, ameaças e humilhações sofridas durante a captura, em marchas e manifestações. Num dos casos mais grotescos, policiais da tropa de choque enfiaram o cano de uma escopeta de gás lacrimogêneo dentro das calças de um fotógrafo. A cena foi registrada por um fotógrafo anônimo.
O segundo ponto acertado com a polícia é desenvolver marcas de identificação visual para os jornalistas. A associação prometeu trabalhar na produção de jaquetas com identificação de imprensa, além de “validar” as credenciais dos correspondentes na polícia.
Medidas como essa costumam causar problemas em manifestações ou outras situações de violência onde a imprensa é vista como inimiga ou ameaça. Esse perigo aumenta quando as identificações visíveis têm logotipo do governo ou da polícia, como acontece no Chile.
O último ponto acordado refere-se à realização de um seminário de capacitação para os fotógrafos.
Veja o depoimento do fotógrafo Fernando Fiedler, preso ilegalmente pela polícia chilena:
Apesar da forma sistemática como a polícia agrediu repórteres no Chile – especialmente nos últimos sete meses, quando ocorreram as marchas dos estudantes por educação gratuita – nenhuma organização estrangeira, exceto a ONG Repórteres Sem Fronteiras, manifestou solidariedade. O governo chileno também respondeu de forma evasiva às preocupações dos jornalistas. Ao Opera Mundi, o porta-voz de governo, Andrés Chadwick, negou há um mês, que se trate de uma política de perseguição sistemática e disse que o Chile é hoje “um exemplo de liberdade de expressão”.
Casos graves
Embora a violência contra a imprensa no Chile tenha aumentado durante o mandato do presidente Sebastián Piñera – primeiro presidente de direita eleito democraticamente no país nos últimos 50 anos –, a polícia local já atuava com a mesma brutalidade antes disso.
Em maio de 2008, o fotógrafo da agência espanhola de notícias Efe Victor Salas perdeu o olho direito depois de ser agredido com um golpe de cassetete por um policial da cavalaria que reprimia um protesto de rua, na cidade de Valparaiso.
No caso mais recente, o fotógrafo da agência AFP, Hecto Retamal, foi espancado por um grupo da tropa de choque e levado para a delegacia. Outro fotógrafo agredido quando cobria manifestações de estudantes foi Fernando Fiedler, da agência IPS. Depois de agredi-lo e levá-lo a uma delegacia, a polícia apagou de sua câmera fotográfica uma sequeência de fotos que mostrava a tropa de choque disparando bombas de gás com escopetas contra o corpo de manifestantes. (Com Opera Mundi)

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