Todos no mesmo balaio



            Carlos Lúcio Gontijo

       Claro que as exceções pessoais ou individuais existem, mas antes de elas reivindicarem ser citadas e eximidas de culpa, quando se denunciam os descalabros no mundo político e nos setores públicos, compete a elas mesmas se comportarem como “parte boa”.
      Já dissemos em muitos de nossos artigos que, ao encontrarmos uma impureza qualquer dentro de uma garrafa de refrigerante, por exemplo, nós reclamamos da empresa fabricante como um todo, não nos cabendo detectar o funcionário responsável pela ocorrência.
      Assim costuma suceder no julgamento que fazemos de órgãos, entidades e instituições públicas, que devem ser avaliados em conformidade com a prestação de serviço que nos oferecem, não adiantando (e nada resolvendo) a providência de funcionários ou parlamentares se nos apresentarem com o discurso de que não têm nada com isso ou aquilo, que trabalham com dedicação, empenho e amor às causas sociais, pois isso não os livra da pecha.
     Afinal, as pessoas que exercem cargos públicos constituídos não são seres inanimados, como é o caso de maçãs sadias que, uma vez colocadas num balaio de frutas podres, não têm como sair nem se livrar de seu destino, correndo o risco involuntário de também se ver atingida pela putrefação. Cabe, portanto, aos nossos representantes públicos a iniciativa de apontar e extirpar as lides congressuais dos parlamentares que desabonam e denigrem a imagem da classe política, ao invés de se entregar a explícito procedimento letárgico, aceitando que denúncias da imprensa pautem a ação depurativa, com os que se dizem honestos e probos fazendo-se de espantados diante do descalabro descortinado no palco político em que convivem (e vivem) amistosamente com os atores da tragicomédia da corrupção e malversação do dinheiro público.
     Na maioria dos casos, a imprensa toma ciência dos escândalos através de vazamentos advindos do próprio ambiente congressual e, logicamente, guiados mais por interesses políticos que pela esperada tomada de consciência ou mesmo o desejo idealista de materializar ou encaminhar a busca de um parlamento fechado à atuação predatória dos corruptores, que só existem porque existe o parlamentar sequioso de matar a sua sede pecuniária na rede e nos anzóis da propina.
     Por outro lado, devemos tomar o máximo cuidado para não cairmos no conto do denuncismo exacerbado, pois há muita gente amante (e saudosa) de regimes autoritários e disposta a passar a ideia de que a democracia é a causa de todos os nossos males socioeconômicos, quando na verdade o que ocorre é que, sob o chicote discricionário, as mazelas se escondem, enquanto sob o manto do exercício democrático elas afloram e são levadas, pela liberdade de expressão, ao conhecimento público.
     Em suma e em síntese, cabe aos parlamentares zelarem pela praça congressual de convivência política, na qual não se pode permitir assento a homens públicos descompromissados com a construção de um Brasil melhor, onde os meios de comunicação não tenham qualquer possibilidade de estampar manchetes nos dando conta da existência de vereadores, deputados, senadores, ministros e governantes se apropriando indevidamente de recursos destinados à saúde, à educação, à cultura, ao turismo, à segurança e até à merenda do escolar.
    Carlos Lúcio Gontijo
    Poeta, escritor e jornalista

Comentários