Casamento infantil vira opção contra a miséria no mundo

A cada ano, mais de 10 milhões de crianças e adolescentes se casam no mundo para fugir da fome, de abusos sexuais e de desastres naturais. No mundo, a cada três segundos, uma jovem com menos de 18 anos se casa no mundo. Essa prática é comum na África e na Ásia.


ANTONIO CARLOS LACERDA(*)

PRAVDA.RU

Apesar de fatores religiosos e culturais, a pobreza é a principal incentivadora dos casamentos infantis. Segundo organizações de direitos humanos, mais de 10 milhões de crianças e adolescentes se casam anualmente para escapar da miséria. A prática da legitimidade ao que o Unicef considera a principal forma de abuso sexual contra crianças.

"As famílias são obrigadas a fazer uma escolha. Se vivem, por exemplo, em áreas atingidas por tragédias naturais, como a seca, inundações ou tsunamis, ou de pobreza extrema, o casamento dos mais jovens torna-se uma questão de sobrevivência. Será possível cuidar melhor dos outros filhos e será uma boca a menos para ser alimentada", disse Kanwal Ahluwalia, da organização Plan UK, que luta contra o casamento infantil.

Nas regiões onde a miséria predomina, as adolescentes chegam a ser negociadas como mercadoria. O noivo - na maior parte das vezes bem mais velho - paga um valor pela jovem ou a troca por água, alimentos ou um animal, como vacas e cabras. A seca que atinge os países do Leste da África - a pior em 60 anos - tornou a prática ainda mais comum. As jovens são conhecidas como "noivas da seca".

Na Indonésia, após o tsunami de 2002, muitos pais viram no casamento infantil uma forma de proteger as meninas de abusos sexuais e estupros nos campos de refugiados. Além disso, com o incentivo financeiro do governo para a formação de famílias, uma ajuda de custo para casais com filhos, o casamento foi uma opção para as adolescentes.

Ann Warner, do International Center for Research on Women (IRCW), ressalta a ligação entre casamentos infantis e o aumento do número de mortalidade materna, infantil, de complicações na gestação e no parto nos países líderes em casamentos infantis. "O corpo das meninas não está fisicamente preparado para a gestação. Quanto mais jovem é a mãe, maior é a chance de ela e o bebê morrerem no parto."

(*) ANTONIO CARLOS LACERDA é correspondente internacional do PRAVDA.RU




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