DESMORALIZAÇÃO

                                                           
Antônio de Faria Lopes

advogado

Meu saudoso amigo Armando Ziller (foto)  gostava de repetir que o verbo desmoralizar é reflexivo. É o próprio comportamento que desmoraliza uma pessoa, não as acusações ou opiniões de terceiros. 

Não há dúvida de que vivemos uma fase de desmoralização do governo perto de completar treze anos no poder.

E não é culpa da imprensa ou da “elite branca”, como costuma dizer aquele que vem nos enganando desde os tempos em que era dirigente sindical. Chegou ao poder com a certeza de que era um deus e que salvaria o mundo: o Brasil para ele era pouco. 

Encontrou fanáticos seguidores e construíram uma organização que se apoderou da verdade, da ética e do compromisso com os pobres. De um lado eles, os iluminados, do outro os exploradores. 

Muito rapidamente, para usufruir do poder, aliaram-se aos ricos (banqueiros e empreiteiros, principalmente), mas continuaram com o mesmo discurso demagógico e mentiroso. 

A “realidade” era construída por marqueteiros baianos que criaram um país da fantasia que a televisão divulgava. Fomos transformados em personagens cujo papel era tão somente aplaudir o governo, exaltar o presidente, e repudiar a elite. 

Os problemas foram se acumulando e a corrupção passou a ser uma norma. Para manter as aparências inventaram as “pedaladas”, o “mensalão” e o “petrolão”.

O primeiro mandato da criatura ungida pelo todo poderoso foi um desastre. O povo foi para as ruas para exigir compromissos do governo com a saúde, educação e segurança, direitos básicos cuja inexistência a fantasia da propaganda não conseguia esconder. E um basta à corrupção que o Ministério Público e a Polícia Federal escancaravam.

Mesmo assim a presidente foi reeleita. Antes mesmo de iniciar o novo mandato já mostrava que todas as promessas de campanha não seriam cumpridas e que a crise escondida por artifícios contábeis chegou pra valer. 

O ex todo poderoso anda assustado com as denúncias de propinas para ele e sua família e o inegável conluio com os empreiteiros presos na operação lava-jato, com latifundiários e banqueiros. 

As pesquisas de opinião pública mostram que é cada vez menor o número de brasileiros que ainda acreditam em suas mentiras. 

Mais da metade dos eleitores o rejeitariam nas próximas eleições presidenciais. Ele se desmoralizou. Será que ele sabe disto? Vivemos talvez o momento mais difícil da nossa história. 

As instituições estão fortes, a política e os políticos desmoralizados. Com quem e como acharemos uma saída? 

Com este sistema político é impossível vencer a corrupção. Se Dilma e Cunha se engolirem e desaparecerem como na estória das duas cobras, resolve? 

Tenho esperanças que de fato estejamos no final de um ciclo. Termino lembrando uma frase que o Ziller gostava de dizer. O autor foi o Barão de Itararé, companheiro de PCB do Armando: “A verdade sobrenada sobre tudo”. 

O dono do PT, embora não goste de ler, vai descobrir que o Barão sabia muito.

10.11.15 (Publicado no O Tempo)  (Uma colaboração do jornalista Gilberto Araújo Araújo)

Comentários