Bar Bocaiuva, eterno


José Carlos Alexandre


Os jornais,as emissoras de rádio anunciam o fechamento do Bar Bocaiuva, me Santa Teresa. Fechamento? Depois de mais de 30 anos de funcionamento?

Como pode ser? Não haveria espaço para novas negociações entre proprietário, o comerciante Joaquim Lúcio, e os novos donos do imóvel? Inacreditável...

Não sou o único a não acreditar. É Santa Teresa inteiro.

É o Alto do Piolho, com sua confraria inextinguivel e daí eterna, perene...

As péssimas notícias impõem-me recordações.

Do velho Inácio, pai do Lúcio, mantendo um misto de bar e padaria a qual comparecia todas as manhãs, em busca do pão nosso de todos os dias...

À noite, para as antarticas geladas, até o fechamento, quando nuito seguidas de um pequeno drink em minha casa, na rua situada a uma quadra do Bocaiuva, e um passeio até as Nações Unidas, onde aí sim, despedia-me do Inácio...

E da chegada, do Rio de Janeiro, do então taxista Joaquim Lúcio, com seu sotaque do norte-mineiro, de Bocaiuva, sua terra, mais precisamente, então ganhando a vida como chofer de praça na Cidade Maravilhosa.

Porém, logo,logo, aliando-se ao pai no Alto do Piolho, onde viria a sucede-lo, com muito êxito...

E conservando o ponto forte do Bar Bocaiuva, o local de reunião da família de Santa Teresa.

Dos Borges, inesquecíveis músicos do clã do Salomão. Do uisquezinho do dr. Maciel. Da cervejinha no cantinho do sr. Raimundo, motorista do IPSEMG. Das muitas histórias do Cabo Luís, a maior delas a que fizemos ao Espírito Santo, quando entrou no mar pela primeira vez...

Entrecortando tudo isso, a chegada, sempre acompanhada dos filhos, da primeira-dama do Bocaiuva, Márcia, misto de prima e esposa do Lúcio. Algumas vezes puxando pelas mãos Adriana...

A morte de Márcia deixou o Lúcio com fisionomia mais fechada, saudoso. Como já havia ocorrido com a do seu pai, Inácio, companheiro de tantos aperitivos, inimaginados pelos filhos...

Tudo que nasce morre, dizem os filósofos entre antarctivas geladas e salinas sem conta...

Nem sempre,nem tudo!

O Bar Bocaiuva, que, como o Bar Esperança de Hugo Carvana, é sempre o último que se fecha...Para ser sempre o primeiro que se abre lá no ponto final do ônibus Santa Teresa, aquela beleza cantada por todos os poetas.

Só que jamais irá fechar para sempre... Nem que todos os homens, mulheres e crianças do bairro tenham de marchar unidos até além da Praça Duque de Caxias cantando e exigindo novas negociações. Quem sabe?, talvez até o tombamento do imóvel para garantir que o Bociuva viva para sempre, para continuar maravilhando as futuras gerações...


(Imagem: José Carlos Alexandre)

Comentários

Unknown disse…
Tenho o prazer de anunciar que dia 18 de agosto, às 14 horas, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de BH irá analisar e deliberar sobre o dossiê de tombamento da edificação que abriga o bar do Lúcio. Com certeza, a cultura boêmia de beagá agradecerá!!!!
Unknown disse…
Tenho o prazer de anunciar que dia 18 de agosto, às 14 horas, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de BH irá analisar e deliberar sobre o dossiê de tombamento da edificação que abriga o bar do Lúcio. Com certeza, a cultura boêmia de beagá agradecerá!!!!