O escritor Luiz Lyrio ainda vive
Carlos Lúcio Gontijo
Dia 8 de agosto de 2010, o professor, poeta e escritor Luiz Paulo Lyrio, natural de Belo Horizonte e conhecido no mundo das letras como Luiz Lyrio, entregou sua alma aos mistérios bíblicos da vida eterna prometidos pelo Criador. Não chegamos a conhecê-lo pessoalmente, mas mantínhamos uma constante troca de e-mails, gerando-nos tangível e boa amizade virtual alicerçada em nossa atividade literária. Luiz Lyrio editava a revista “Estalo” na qual inseriu, em uma de suas edições, a capa, um poema e um comentário relativos ao lançamento de nosso mais recente livro, o romance “Jardim de Corpos”.
Luiz Lyrio era um grande ativista e divulgador dos que exercitam a difícil e tão abandonada arte de escrever neste Brasil democrático que se nos apresenta com significativo número de autores inéditos ou completamente desconhecidos como se estivéssemos vivendo em período ditatorial, ensinando-nos que incentivo à leitura, produção e impressão de livros é fenômeno dependente da mentalidade das autoridades constituídas que governam o país e não propriamente do regime político. Ou seja, nossa tenra democracia será perpetuada entre nós enquanto não assistirmos à adoção de forte incremento nas áreas da educação e da cultura.
O escritor Luiz Lyrio não está mais entre nós fisicamente, mas sua obra de intelectual preocupado com as desigualdades sociais, angustiado com o descaso dos governantes brasileiros no tocante ao setor educacional e amargurado com o destino de incertezas que a humanidade semeia com as próprias mãos permanecerá entre nós como um farol a nos alertar e, ao mesmo tempo, a iluminar nossas atitudes e mentes, por intermédio dos livros Marcas de Batom, Abdução, Entre a Morte e a Vida, A Guerra do Fim do Mundo (ainda inédito, todavia pronto para vir à luz).
A magia da internet ainda nos permite entrar em contato com a obra e o pensamento de Luiz Lyrio, bastando-nos acessar http://www.luizlyr.blogspot.com/ ou simplesmente digitar seu nome e ir ao encontro das páginas de referência. Temos lido artigos em que se discute a importância da literatura nos dias de hoje, onde muitos defendem a tese de que, se não for para viver e experimentar o fama e glória, não vale a pena o exercício da palavra como expressão.
O recado é que todos os autores devem buscar o sucesso aqui e agora, sob incisiva recomendação de que abandonem tudo e vão viver a vida. Esquecem-se tais articulistas desprovidos de sensibilidade e atingidos pelo imediatismo da dita modernidade de que, para gente embebida em dom realmente verdadeiro, exercê-lo é sentir-se (e estar) vivo. Talvez o sonho do peixinho de aquário seja ser baleia ou tubarão, mas com toda certeza nadar é o seu propósito maior. Ou seja, que seria do mundo das letras se todos os autores distantes dos holofotes da grande mídia resolvessem simplesmente encerrar a lavra de seus livros? Por isso, aplaudo sempre os pequenos, bem-intencionados e competentes autores independentes – os “lyrios” do campo literário –, a exemplo de Luiz Lyrio no poema “Amor com Limites”: (...) Não posso fazer juras de amor eterno/ Minha eternidade pode durar apenas um dia, uma hora, um minuto, um segundo (...).

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
http://www.carlosluciogontijo.jor.br/

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