A caneta de Vargas




Jorge Cortás Sader Filho (*)





A última reunião no Palácio do Catete não é bem descrita por motivos políticos entre os jornalistas. Esqueceram do profissionalismo e noticiaram segundo suas convicções político-partidárias.
A morte do major da Aeronáutica, Rubem Florentino Vaz, que fazia a segurança do jornalista e político Carlos Lacerda, maior inimigo do então presidente Getúlio Dorneles Vargas, colocou o oficialato jovem das três forças armadas contra o assassinato do colega. Decidiram não mais obedecer ordens dos oficiais-generais que fossem para defender o status quo.
Ora, o major manda na tropa. Major significa maior. Os generais traçam seus planos, mas quem os faz a tropa cumprir são os majores.
No Galeão, sob o comando do coronel João Adil Oliveira, estava instaurado um inquérito rigoroso que prendia ou convocava quem bem quisesse, a despeito do Ministro da Aeronáutica, Nero Moura.
Vendo desesperadora a situação. Getúlio convoca os seus ministros. A ideia era pedir um afastamento do cargo, até que o impasse se definisse.
Não funcionou, os ministros não chegaram a acordo algum, naquela fria madrugada de 24 de agosto de 1954. Terminada a reunião, ele teria chamado o seu Ministro da Justiça, Tancredo Neves e conversado bom tempo. Entregou a sua caneta, uma Parker 21 de ouro dizendo “ao amigo certo das horas incertas.”
Fato complicado. Ou já teria escrito a “carta testamento”, ou usou outra caneta.
O Museu da República é farto. Mas tem presidente que na legará nada, vergonha para um país.
A imagem que ilustra a crônica não tem por objetivo chocar. De modo algum. Serve como advertência.

(*) Jorge Cortás Sader Filho é escritor
(Transcrito do Pravda ru)
Imagem:; Rafael Pinho/Museu Tandredo Neves/Divulgação)

Comentários

Carmem Velloso disse…
Foi o que aconteceu. Jorge está correto.