Povo curdo – a maior etnia sem estado no mundo

                                                               
           Imagens:Alexandro Auler

Curdistám - RBA - Fotógrafo brasileiro acompanha cotidiano de guerrilheiros curdos na resistência ao Estado Islâmico. A busca de uma sociedade igualitária no norte da Síria

Se estivesse organizado em um território, o Curdistão seria um dos 50 países mais ­populosos do mundo, com 26 milhões de habitantes. Mas os curdos vivem em uma ­região do Oriente Médio, com 500 mil ­quilómetros ­quadrados, espalhados por vários países – Turquia, Iraque, Síria, ­Armênia e Azerbaijão.

Durante 80 dias, entre fevereiro e maio, o fotógraf­o brasileiro Alexandro Auler ­percorreu a planície da antiga Mesopotâmia, na fronteira da Turquia com a Síria, entre os rios Tigre e Eufrates, que correm pela região e pela história da humanidade. São dele as imagens que retratam os conflitos que ­envolvem o povo curdo – a maior etnia sem estado no mundo, lembra.

“Antes da guerra civil, a cidade de Kobani contava com aproximadamente 400 mil habitantes. Após o início do conflito, em 2011, estima-se que apenas 12 mil permaneceram no local”, relata Alexandro. Ele conta que naquele lugar, 100 anos atrás, havia dois vilarejos que, após vários desentendimentos, se uniram – Kon-Bani quer dizer “viver em grupo” ou “reconciliação”. É uma das explicações para o nome da cidade, cujo significado, hoje, ainda parece uma realidade distante, na luta pela independência curda.

Em guerra com a Síria desde 2011, a cidade teve 80% de seu território controlado pelo Isis (Estado Islâmico do Iraque e Síria) em 2014. Kobani também foi arrasada por bombardeios da coalizão internacional, liderada pelos Estados Unidos, que deixaram pelo menos 2 mil mortos.

Em janeiro, após meses de combates, milícias do YPG (soldados homens), aliadas a soldados estrangeiros, chamados de “Internacional”, mais os Peshmarga (Exército curdo do Iraque), ajudaram a libertar a cidade do domínio do Isis. Esse movimento de resistência é de inspiração socialista.

“Mesmo com o fim dos confrontos, no centro da cidade é muito comum ouvir o eco das explosões e dos disparos que acontecem nas linhas de frente, principalmente durante a noite. Kobani não possui fornecimento de energia elétrica ou água tratada há mais de três anos. Recentemente, pequenos mercados, farmácias, barbearias e pontos de venda de celulares e diesel começaram a funcionar”, conta Alexandro, lembrando das características da região. “Lá é Síria, mas eles são curdos, então se consideram Curdistão.”

Impressionou o fotógrafo – gaúcho de origem que já morou em várias cidades brasileiras – a banalidade da morte. Suas fotografias mostram jovens, meninos e ­meninas. Muitos posam sorridentes com suas ­armas, sinal de conquista. 

As jovens guerreiras (YPJ) carregam bombas em seus corpos. São suicidas. Seguem o exemplo de Arin Mirkan, guerreira que no ano passado preferiu se matar a se entregar ao inimigo. “Lá é uma honra ser mártir”, diz Alexandro, repetindo uma frase comum: Sherid no Mirin (“Somente os ­mártires têm vida eterna”). (Com o Diário Liberdade)

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