Um olhar sempre de boas-festas

Carlos Lúcio Gontijo

Estamos em processo de retorno para a cidade onde mora meu pai (José Carlos Gontijo), na qual passamos nossa infância, degustamos nossa juventude, nos casamos e sepultamos a mãe Betty Rodrigues Gontijo, num 19 de dezembro revestido de cinza, com os doces que ela já havia preparado guardados na geladeira e certamente provados pelos anjos e espíritos de luz que vieram extraí-la de nossa convivência.
Dói-nos muito deixar Contagem, da qual ganhamos cidadania honorária; a minha querida Belo Horizonte e um punhado de bons amigos que a literatura e o jornalismo nos deram ao longo dos anos. Interessantemente, os amigos de que mais gostamos nos foram trazidos pelas mãos do dom da palavra com que Deus nos premiou.
Hoje, com o advento da internet, nosso site nos encaminha diariamente amigos sem face conhecida nem contato pessoal, mas nem por isso detentores de amizade menor. Citamos como exemplos Liana Silva, que tanto prestigia quanto divulga o nosso trabalho literário, e Ângela Maria Sales Dias, que está fazendo um garimpo espontâneo de frases e pensamentos no rio caudaloso de nossas palavras, cuja “apuração” esperamos transformar em um livreto com o título de “Carlos Lúcio Gontijo na bateia de uma leitora”.
Confessamos ser autor autodidata, o que nos remeteu, exatamente pela falta e descompromisso com a forma ou escola estética, a um estilo próprio em relação à escrita e ao comportamento, uma vez que não frequentamos altas rodas intelectuais e fazemos do encontro casual com amigos comuns o nosso sarau particular, pois é de conversa em conversa que o aprendizado e as ideias surgem. Desde, é lógico, que o preconceito (ou a intolerância) não se interponha ao estabelecimento de um bom diálogo regado a cervejinha gelada e música de qualidade.
Contudo, retornando aos amigos que os artigos, nossa poesia e prosa poética nos trouxeram, temos Sulamita Coelho Amaral, escritora residente em Divinópolis/MG, que me enviou, pelo correio, o excelente “essetremloucodavida”, em cujas linhas mergulhamos encantados com os vagões repletos de metáforas e apinhados de paisagens, nas quais se podem detectar todas as estações de nossa existência passageira transportada por esse trem louco da vida de cada um de nós.
Resta-nos então terminarmos este artigo com um parágrafo do livro de contos de Sulamita Coelho Amaral: “Quando finalmente, o sono chegou, Dinah, mulher e única, teve sonhos de criança, e, dava-se para entrever, no claro-escuro do quarto, que de sua nua placidez desprendeu-se uma borboleta de asas fosforescentes”.
E é levando em nosso peito amizades, saudades e fosforescência de asas de borboletas à luz da manhã que voltaremos a habitar o solo santo-antoniense de nossa infância ajardinada pelos canteiros do olhar sempre natalino e de boas-festas da saudosa mato-grossense mãe-Betty
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
http://www.carlosluciogontijo.jor.br/

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