Crítica: Anita Prestes faz biografia equilibrada, sem amenizar polêmicas do pai

                                                             
                                                             

    Anita Leocadia Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, em 1957

MAURICIO PULS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

 A biografia "Luiz Carlos Prestes Um Comunista Brasileiro", da historiadora Anita Leocadia Prestes –filha de Prestes com Olga Benario, executada pelos nazistas em 1942–, encerra lições importantes para entender a crise da esquerda no país. 


Ao refletir sobre o golpe de 1964, Prestes chegou à conclusão que a derrota resultou da estratégia reformista do PCB: tendo atrelado seu destino a uma aliança com a "burguesia nacional", o partido deixou o socialismo de lado e nunca se preocupou em "ganhar a classe operária e as massas camponesas". 


Por isso não teve força para sobreviver à "capitulação do aliado burguês" quando este se deparou com uma grave crise política e econômica. 


O problema, constatou Prestes em 1987, é que o PT havia adotado "a mesma orientação do PCB". 

                                                         
Anita Leocadia Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, em 1957


O livro de Anita Leocadia sobre seu pai é claro e bem documentado. Mais preocupada em reconstituir a relação de Prestes com o partido, a autora não se demora na descrição de sua vida pessoal. As referências a seus familiares são sempre breves. Mesmo tendo sido assessora de Prestes, ela raramente menciona sua participação nos acontecimentos. 


A historiadora registra de forma equilibrada episódios polêmicos como o justiçamento de Elza (Elvira Cupello Caloni), suspeita de passar informações à polícia. 


Leocadia reproduz as cartas de Prestes ao Comitê Central exigindo a morte da militante e não procura amenizar as declarações do pai: "Foi errônea, desnecessária e inaceitável, nas condições então existentes, a solução adotada para o caso de Elvira". 


Ela não menciona a biografia do historiador Daniel Aarão Reis, publicada no ano passado. As divergências começam já pelo prenome de Prestes: enquanto Aarão opta por "Luís", seguindo a certidão de nascimento, Leocadia prefere "Luiz" porque esta foi a grafia escolhida por seu pai. 


Em seu livro, Aarão diz que os trabalhos de Leocadia são "expressão de uma pesquisa rigorosa", mas pecam por um "viés defensivo" e "glorificante". Em resposta, ela listou incorreções na obra de Aarão e o acusou de caluniar sua mãe. 


O grande interlocutor de Leocadia parece ser o historiador Jacob Gorender (1923-2013), ex-dirigente do PCB que se tornou crítico de Prestes. 


Após registrar que Gorender culpou a Internacional Comunista pela deflagração da insurreição de 1935, ela cita as atas das reuniões em Moscou que mostram que o maior responsável pelo desastre foi o então secretário-geral do PCB, Antônio Maciel Bonfim. 


Outros apontamentos de Gorender são acolhidos com ressalvas –como as críticas ao comportamento de Prestes de acumular documentos perigosos ou os estratagemas "nem sempre" democráticos para evitar uma vitória de seus adversários. 

                                                               
LUIZ CARLOS PRESTES   
AUTORA Anita Leocadia Prestes  
EDITORA Boitempo  
QUANTO R$ 48 (560 págs.)

 FONTE: Folha de São Paulo, caderno Ilustrada, 10/10/2015. (Com Prestes a Ressurgir. Os grifos são meus, José Carlos Alexandre)

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