O sono da escravidão consentida

                                                           
                                                   

Carlos Lúcio Gontijo (*)                               



          Não importa se nos Estados Unidos, no Brasil ou nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, pois o quadro político é o mesmo: candidatos ruins e, portanto, incapazes de dar real opção para o eleitor, uma vez que a decantação dos nomes termina passando pelo filtro esburacado do radicalismo, no qual vive o mundo nos dias de hoje, onde é flagrante o empobrecimento intelectual generalizado.

                                                                              
          Assistimos ao avanço de programas televisivos especializados em propagar (repetida e diariamente) a subcultura, por intermédio da exaltação à superficialidade e do noticiário policial, que termina por colocar a violência como algo natural e inerente ao ser humano. Esse panorama, conjugado com educação voltada para a formação de especialistas, levando alunos de curso médio e estudantes de ensino universitário a se diplomar sem jamais ter lido um livro de literatura, um romance ou uma obra de poesia, o que resulta na formação de profissionais completamente desprovidos de sensibilidade no tocante ao trato com o ser humano, com a pessoa, com o semelhante, com o cidadão.

          Devemos evitar a todo custo cair no conto da criminalização da política ou no discurso de que todo político é vagabundo, pois é dessa maneira que se abre a porta aos oportunistas, aos grupos fundamentalistas e reacionários, os quais se aproveitam do esvaziamento da ação política para assumir o poder e cometer as maiores barbaridades em nome da moral, dos bons costumes e até de Deus, que desde o surgimento da ideia de algo mais alto a nos guiar habita o fio da navalha (e da língua) de muito sanguinário e pregador da sagrada palavra.

          Há uma intensificação avassaladora da disseminação do medo, como se a meta fosse manter a população acuada e desesperançada, a ponto de imaginar que o mal venceu e não há mais por que lutar. É tempo de o bem dizer a que veio e passarmos a enaltecer aqueles que o praticam, uma vez que os semeadores do mal ganham manchetes em letras garrafais nos meios de comunicação, a ponto de possibilitar a malfeitor notório a conquista de admiradores e seguidores fanáticos, com direito a se inscrever em partido político, ser candidato, votado, eleito e tomar assento no centro do poder, legitimado e ungido pelas urnas democráticas.

         A nosso ver carecemos urgentemente de uma reforma humana capaz de cessar a cultura hedonista que nos rege e nos brutaliza, conduzindo-nos ao açougue dos balcões e vitrines iluminadas, às quais sob a sanha de consumir (para existir) entregamos a nossa alma e perdemos o dom da convivência em sociedade, que muitos idealizam melhor e mais promissora se estiver nas mãos de um capataz abençoado pelo divino poder dos reis e que, dispondo de chicote e pelourinho em praça pública, como se fosse senhor da vida e da morte, adote toque de recolher e ponha todos para dormir o sono letárgico da escravidão consentida.

        (*)   Poeta, escritor e jornalista

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