Atingidos pela tragédia do Rio Doce sofrem com descaso da Samarco (Um texto do jornal "Brasil de Fato")

                                                             

Areeiros sem nenhuma proteção retiram areia do Rio Doce - Créditos: Reprodução/Movimento dos Atingidos por Barragens



Nove meses após rompimento da barragem, cidades
atingidas ainda lidam com contaminação da água

Cidades atingidas pela tragédia da Samarco no Vale do Aço mineiro estão sofrendo com a contaminação das águas do Rio Doce por metais pesados. Em um mutirão de trabalho de base, realizado recentemente pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em toda a extensão do Rio Doce, foram feitas diversas denúncias de pessoas com diferentes doenças de pele fruto do contato com a água, além de relatos de mortes de animais que consomem o recurso hídrico.

No distrito de Cachoeira Escura, na cidade de Belo Oriente (MG), os atingidos continuam dragando a água do Rio Doce para retirar areia, sem qualquer instrução da empresa ou equipamentos de proteção. Já os pedreiros de cidades vizinhas, que utilizam a areia para trabalho, têm apresentado manchas e feridas na pele.

Na cidade de Naque (MG), muitos pescadores não foram reconhecidos como atingidos pela Samarco. Apesar de a empresa ter proibido a pesca no rio Santo Antônio, afluente do Rio Doce para recuperação do rio pela lama tóxica, não apresentou medidas paliativas para os atingidos, que sofrem com alergias, coceiras e dores estomacais após contato com a água.

Antes do desastre, porcos, gado e galinhas se alimentavam soltos na zona rural da cidade. Hoje, no entanto, ficam presos, já que muitos animais por conta do consumo da água, e o gasto com compra de ração aumentou.

Em São Lourenço, distrito de Bugre (MG), a maioria das famílias é ribeirinha e utilizava o rio para pescar ou plantar, seja para comercialização ou consumo próprio.

Entretanto, muitos perderam animais que ingeriram a água do rio. Outro problema apresentado pelos moradores é que a água que consomem é retirada de um poço próximo ao rio, que não recebe nenhum tipo de tratamento.

A Samarco, porém, não reconhece a população de São Lourenço como atingida, e menos de dez pessoas da localidade recebem a verba de manutenção. A empresa se recusou até mesmo a analisar a água do poço em uma reunião realizada em que representantes da região compareceram.

Os moradores da cidade também utilizam o rio como transporte, e foram prejudicados quando a balsa usada por trabalhadores e estudantes ficou parada durante dias após o desastre. 

Contraponto

A assessoria de imprensa da Samarco refuta as acusações e diz que "o rejeito não é tóxico, nem traz riscos à saúde, sendo classificado como inerte e não perigoso pela norma brasileira NBR 10.004", segundo testes divulgados em março "pela Fundação Gorceix, instituição vinculada à Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)".

Sobre as indenizações, a empresa afirma que "os critérios para a destinação do cartão de auxílio financeiro emergencial foram definidos em conjunto com o Ministério Público, e vêm sendo cumpridos pela Samarco. O valor estabelecido é de um salário mínimo, mais 20% do salário mínimo por dependente e o valor de uma cesta básica calculado pelo Dieese".

Já em relação às demandas individuais, a Samarco afirma que elas "serão tratadas dentro do programa de indenização, previsto no Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) assinado entre a Samarco e os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo" e "o programa já está sendo estruturado e deve ser iniciado em breve".

(Com o "Brasil de Fato")

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