Socialismo do século 21, estratégia imperialista, “eurochavismo” e eurocentrismo em debate


                                                     


Achille Lollo (*) 


No dia 5 de março, acabava o calvário cancerígeno (ou a fase definitiva de um assassinato desejado pelo imperialismo) que o presidente da Venezuela, o Comandante Hugo Chávez, havia iniciado em outubro de 2012, logo após ganhar as eleições pela quarta vez. O desaparecimento do teórico do Socialismo do Século 21 permitiu ao imperialismo estadunidense introduzir no contexto venezuelano uma nova dinâmica contrarrevolucionária, juntamente às novas dinâmicas da guerra econômica e da manipulação midiática. Assim, esperava que se pudesse apagar em menos de dois anos a chama do chavismo e, portanto, “castrar” a eleição de Nicolas Maduro e pôr fim, em termos constitucionais, à Revolução Bolivariana.

Posteriormente, a crise provocada com a queda do preço do barril de petróleo, até 28 U$ dólares, fez com que o esquema subversivo das “excelências” da Casa Branca conseguisse ocupar espaço na difícil conjuntura política venezuelana. De fato, temos que admitir que nos últimos dois anos a estabilidade do governo revolucionário bolivariano foi submetida a duras provas, sobretudo com o acirramento da guerra econômica que, entre outros motivos, permitiu a eleição de Henrique Capriles no estado de Miranda e de uma bancada opositora (MUD), politicamente implicada na ruptura violenta da democracia.

Hoje, os parlamentares da oposição, teleguiados por Henry Ramos Allup, alcançaram a maioria e em oito meses de atividade parlamentar nada fizeram, a não ser as tentativas de atropelar as atividades legislativas do Parlamento, com vistas a acelerar a paralisia administrativa da economia e consequentemente o colapso do governo bolivariano do presidente Maduro.

Um cenário em que segundo a histórica “excelência” do Departamento do Estado, Henry Kissinger, “uma revolta popular poderia provocar o fim do regime chavista e, portanto, silenciar definitivamente o legado político de Hugo Chávez”.

Uma tese que se revelou inconsequente e falimentar, porque o “legado político” de Hugo Chávez conseguiu frear o processo de desarticulação da democracia bolivariana, que o drama da guerra econômica e a absurda manipulação da mídia haviam acionado. Em função de tudo, nos meses de março e abril, o New York Times, o El Pais, a CNN, a BBC, a TV italiana RAI e o jornal progressista La Repubblica apostavam na renúncia do presidente Nicolás Maduro. Depois, em junho, começaram a reduzir os artigos sobre a Venezuela, que a partir do mês de julho praticamente desaparecia das páginas da “grande mídia”.

Uma situação que em termos geopolíticos pode frear a dinâmica da estratégia imperialista na América Latina. De fato, se na Argentina os erros de Cristina Kirchner ajudaram o ultraliberal Mauricio Macri a ganhar as eleições, enquanto no Brasil a dupla Temer/Cunha acabava com o governo de Dilma Rousseff com um “golpe branco”, na Venezuela o governo revolucionário bolivariano conseguiu resistir com o apoio do povo, que reconhece os esforços feitos pelo governo para sair da crise.

Para aprofundar a análise geopolítica sem os argumentos da “grande mídia”, entrevistamos o professor Luciano Vasapollo que, através de sua organização (Rete dei Comunisti) e outras estruturas político-culturais (Associação Nuestra América, Associação Marxista Política e Classe), manteve uma longa relação com o Comandante Chávez e continua a manter imensas ligações com o atual governo. Sem esquecer que Vasapollo, além de ser o delegado para América Latina do reitor da Universidade de Roma La Sapienza, é também considerado um dos principais estudiosos marxistas europeus, integrado à realidade política e ideológica da revolução bolivariana.

Neste âmbito, no dia 28 de julho e depois no dia 31, Luciano Vasapollo (foto) realizou duas entrevistas com a Radio Sur e a Radio Nacional, com grande repercussão, sobretudo nos países do ALBA e em todos os programas em castelhano das emissoras europeias. O motivo desse sucesso depende da capacidade, enquanto europeu, de explicar por que o legado político de Chávez ainda resiste aos ataques da oposição, desmentindo as fáceis previsões das “excelências” da Casa Branca e dos estrategistas inimigos.

A entrevista completa com Luciano Vasapollo pode ser lida abaixo.

Correio da Cidadania: A jornalista Cristina Gonzalez (que durante muitos anos entrevistou Hugo Chávez no programa Alô Presidente) frisou que você teve uma relação de grande colaboração e amizade com o Comandante Chávez e agora mantém também com o presidente Nicolas Maduro. Uma relação que ficou mais ampla, abrangendo ministros e setores do PSUV, com a realização de projetos de estudos e análises por parte das estruturas políticas e culturais que você coordena juntamente a Rita Martufi e outros camaradas da Rete dei Comunisti. Pode explicar como foi construída essa relação?

Luciano Vasapollo: Em 1969, quando na Itália surgiu a esquerda “extraparlamentar”, por não estar no Parlamento, eu, muito jovem, fui militante da organização Poder Operário (Potere Operaio), fundada por Tony Negri. Era o tempo do guevarismo e por isso eu fiquei fascinado pelo movimento guerrilheiro venezuelano (FLN-FALN), liderado pelo famoso Douglas Bravo. Depois, em 1989, com Rita Martufi, vivenciamos o Caracazo (1), presenciando a brutalidade assassina de um governo de centro-esquerda que dizia ser democrático, apesar de ser o fiel executor das ordens do imperialismo estadunidense. A seguir, quando em 1992 Hugo Chávez tentou promover um movimento insurrecional com o MBR200, com a participação de setores progressistas e nacionalistas das Forças Armadas para derrubar o então presidente Carlos Andes Perez, começamos a estudar intensamente o contexto político da Venezuela, em particular seus fundamentos históricos.

A simbiose de Chávez entre pensamento e ação e o crescimento do movimento chavista transformaram nosso interesse em uma postura de militância, que se afirmou em 1998, quando Chávez ganhou sua primeira eleição e depois em 1999, quando o povo de Caracas fechou o Palácio Miraflores e obrigou os golpistas a uma vergonhosa fuga. Daqueles dias veio minha relação com o Comandante Chávez e depois com alguns ministros, entre os quais Hector Navarro, Jorge Giordani, Luis Salas, Jorge Arreaza, Ricardo Menezes, um importante componente da atividade política da Rete dei Comunisti e da Associação “Nuestra América”.

Um interesse que abrangeu também minha atividade acadêmica de professor na Universidade de Roma La Sapienza. Por exemplo, neste ano elaborei um plano de estudo para meus estudantes, onde foi analisada a conjuntura política e econômica de Venezuela, Bolívia, Cuba e Argentina. Por isso temos realizado uma série de entrevistas editadas em quatro DVDs, traduzidas para o espanhol e distribuídas como material didático naqueles países.

Correio da Cidadania: Resulta que o capitulo da entrevista da Radio Sur mais reprisado na rede foi teu comentário sobre a atualidade do legado político de Hugo Chávez. Poderia explicar por que, hoje, a herança política de Chávez é de extrema importância para o governo de Maduro?

Luciano Vasapollo: Não é a primeira vez que renomados jornalistas venezuelanos me chamam de Caracas, em plena noite, pedindo uma entrevista para conhecer o ponto de vista da área política e sindical a que tenho honra de pertencer, sobre temáticas complicadas e que necessitariam de horas de reflexão, algo praticamente impossível no rádio, onde tudo é imediato. Por isso, na entrevista da Radio Sur tentei sintetizar a importância do legado político de Chávez, sublinhando que foi mesmo em função da concepção revolucionária chavista que, hoje, a Venezuela bolivariana, os militantes do PSUV, os chavistas e as massas populares fiéis aos princípios da democracia participativa conseguiram resistir aos violentos ataques do imperialismo.

Agora, todo o mundo reconhece que sem esta herança política, sem o estímulo para construir o projeto político que Chávez identificou como o Socialismo do Século 21, sem a decisão dos trabalhadores venezuelanos em defender a democracia bolivariana, o imperialismo estadunidense teria ganhado e derrubado as dinâmicas revolucionárias e progressistas não só da Venezuela, mas de toda a América Latina.

De fato, ao analisar a estrutura das componentes subversivas que as antenas da CIA acionaram nas chamadas Revoluções coloridas – refiro-me à Ucrânia e Geórgia, mas também às famosas primaveras árabes – reparamos que seis meses de atividade subversiva e terrorista foram suficientes para determinar a queda daqueles governos.

Contrariamente, na Venezuela revolucionária, o plano subversivo de Washington ainda é uma hipótese que deve ser verificada, visto que apesar dos atentados terroristas e das consequências da guerra econômica, o povo bolivariano acredita que o governo chavista de Maduro vai conseguir resolver os problemas econômicos.

Na realidade, a grande maioria do povo venezuelano, por ter adquirido nestes anos uma consciência política, entendeu que a crise econômica não foi provocada pelo governo ou pelo sistema bolivariano, mas, sim, pela queda do preço do petróleo que paralisou todos os investimentos que o governo havia destinado às Misiones.

Por isso, o povo apoia o novo programa de reformas estruturais que o presidente Maduro lançou na primeira semana de julho. Por outro lado, os trabalhadores sabem que acreditar nas palavras da oposição significa voltar aos níveis de pobreza, desemprego e exploração do passado. Por isso todo o legado político de Chávez se tornou a ideologia do presente.

Correio da Cidadania: Todo o mundo, sobretudo na esquerda, gostaria de saber como o movimento chavista consegue resistir à manipulação midiática internacional e como conseguiu rechaçar os ataques da subversão imperialista. Você consegue explicar isso?

Luciano Vasapollo: É necessário lembrar que desde o início da revolução chavista, mas sobretudo agora, o imperialismo está tentando acabar com a experiência bolivariana. Nestes últimos três anos assistimos a um enfrentamento disfarçado, mas ao mesmo tempo tremendo, onde a resistência política do PSUV e a defesa da soberania nacional por parte do movimento chavista foram os elementos determinantes que, hoje, caracterizam a continuidade do governo revolucionário e a legitimidade da direção política do presidente Maduro.

Um contexto onde se sobressaem duas questões políticas com elementos preponderantes e que continuam a determinar a longevidade do posicionamento geopolítico e geoestratégico da Venezuela bolivariana e chavista.

A primeira é representada pelas características políticas e constitucionais do processo participativo revolucionário da democracia de base e do protagonismo das massas populares bolivarianas. Algo que mudou por completo a relação Estado-Cidadão e continua a ser aceito, desejado e reforçado pelo povo.

A segunda se relaciona com a evolução socioeconômica que em 15 anos produziu contínuas melhorias na qualidade de vida dos setores populares, com a atividade das diferentes Misiones, que o governo bolivariano criou, invertendo o destino final da renda petrolífera. Isto é, os bilhões de dólares que antes eram pagos às multinacionais e aos especuladores da burguesia venezuelana, mas com a chegada dos governos de Chávez e Maduro foram utilizados para financiar os projetos socais, as infraestruturas e os moldes da economia socialista em geral. Uma realidade que o povo conhece, e muito bem! Como também sabe que o contrabando, a economia “dolarizada”, a sabotagem da economia e a corrupção são fenômenos que nada têm a ver com o projeto revolucionário.

É verdade, hoje muitos setores populares criticam o governo. Mas a maioria deles o faz porque desejaria que o governo atuasse com mais vigor, com mais repressão para com os terroristas, os especuladores e os contrabandistas. Uma situação difícil, onde em cada momento as rádios e as TVs repetem o blábláblá subversivo dos fascistas Capriles e Henry Ramos Allup, que não convence as camadas populares, em um momento que os trabalhadores não esqueceram que os governos chavistas construíram milhões de casas populares, introduziram o contrato nacional de trabalho, fixaram aumento salariais e disciplinaram as categorias da aposentadoria. Além disso, foram desenvolvidas as cooperativas, a fim de garantir mais ocupação com projetos que mudaram a Venezuela, com modernas infraestruturas que garantem gratuitamente instrução primária e universitária, transportes, cultura, informação, esporte e, sobretudo, saúde a todos aqueles antes excluídos do bem estar social.

Por isso, o conceito de Justiça Social formulado por Chávez, logo após sua eleição em 1998, se tornou a linha ideológica do Estado e do governo bolivariano de Maduro, que agora está tentando continuar, apesar da difícil situação econômica que a Venezuela sofre, à causa do duro e ignominioso ataque do imperialismo estadunidense e das oligarquias da burguesia venezuelana.

Correio da Cidadania: Na entrevista da Radio Sur e depois na Radio Nacional você admitiu a existência, na Itália e em outros países europeus de uma ligação entre a análise política chavista e o sistema de lutas realizadas pelos sindicatos classistas e as mobilizações dos movimentos sociais. Além disso, você admitiu que existe uma significativa ligação entre a conotação revolucionária do chavismo, as experiências da Cuba socialista e da Rete dei Comunisti, a Associação Nuestra América e o Capitulo Italiano da Rete in Difesa dell’Umanitá. Pode explicar como surgiu essa relação?

Luciano Vasapollo: Antes de tudo quero sublinhar que a Rete dei Comunisti – de que sou militante de longa data – e também a ampla área política da alternativa revolucionária, consideram – enquanto marxistas, comunistas e guevaristas, mas também gramscianos – que a tese do Socialismo do Século 21 formulada por Chávez é, de fato, uma novidade em termos de teoria revolucionária, determinante para o desenvolvimento da nossa atividade política no movimento classista europeu e, portanto, na formação política e ideológica das massas.

Por isso existe uma relação estreita entre a Rete dei Comunisti e alguns setores específicos do movimento chavista e do PSUV. Aliás, quero sublinhar que a referida Rete dei Comunisti foi fundada em 1998, quando a revolução bolivariana iniciava sua evolução política ganhando a primeira eleição. Assim, enquanto sujeito político anticapitalista e anti-imperialista, para nós se tornou a referência ideológica mais atualizada, juntamente com a prática militante e os ensinamentos da revolução cubana e da sandinista.

Portanto, minha organização política e as estruturas com as quais colaboro, no âmbito político e cultural do marxismo militante, já realizaram muitos estudos comparativos e analíticos sobre as experiências bolivarianas, antes de tudo aquelas que enfocam a evolução das condições dos trabalhadores no setor petrolífero e no terciário, a realização do planejamento socioeconômico nas condições atuais em Cuba e nos restantes países do ALBA.

Pesquisas que foram transformadas em artigos, publicados nas revistas “Nuestra América” e “Proteo”, e em dezenas de livros que circulam nos movimentos socais, nos sindicatos classistas, nos movimentos populares e nos setores do movimento estudantil universitário.

Outro importante instrumento de divulgação política (publicada em papel e on-line), que oferece muito espaço à realidade política e social bolivariana, é o jornal Contropiano e a histórica Radio Cittá Aperta.

Ao mesmo tempo criamos uma vinculação ideológica e de colaboração política com o processo revolucionário da Venezuela, do momento que o governo bolivariano, antes com Chávez e agora com Maduro, manteve uma posição firme contra o sistema capitalista e contra as novas formas de exploração inventadas pelas transnacionais. Por isso tudo, o governo chavista se tornou uma referência para a chamada transição ao socialismo.

Resumindo, posso afirmar que para a luta dos sindicatos classistas e os militantes autenticamente comunistas, que na Itália, hoje, são os únicos que travam a luta contra a opressão do modelo neoliberal, o exemplo da Venezuela bolivariana e sua prática internacionalista são de fundamental importância para mobilizar os trabalhadores e organizar suas lutas classistas, seja nas reivindicações para com os patrões do setor privado como os administradores das empresas públicas.

Correio da Cidadania: Para muitos olhos socialistas, o governo bolivariano foi demasiado “bonzinho” com quem quer sua destruição. Poderia explicar por que a resposta do Estado e do governo bolivariano à subversão, à sabotagem e às centrais do terrorismo nunca foi tão dura e repressora como alguns setores acham que deveria ter sido?

Luciano Vasapollo: Esta é uma pergunta que mereceria páginas e páginas para se responder devidamente e que eu já fiz várias vezes ao Comandante Chávez, bem como ao presidente Maduro. Entretanto, vou ser breve e linear.

Como primeiro ponto devo lembrar que a democracia bolivariana não recorre à metodologia da repressão do sistema burguês quando deve combater seus inimigos. Estes devem, sim, ser derrotados e certamente serão derrotados, porém, dentro do novo contexto político criado pela revolução bolivariana e não somente com novos códigos penais. Antes de tudo, através do novo conceito de democracia, que abrange as novas normas constitucionais, legislativas e eleitorais. Enfim, através de um novo código de vida.

Nunca devemos esquecer que a democracia participativa bolivariana é um modelo político de novo tipo, que introduz na sociedade uma nova cultura no que diz respeito à administração do Estado, o gerenciamento da economia, bem como o relacionamento entre as instituições e os cidadãos, inclusive com aqueles que cometem crimes. A este propósito lembro de quando Chávez dizia nas reuniões restritas, mas também publicamente, como na conferência de imprensa realizada em Porto Alegre durante o Fórum Mundial: “as centrais subversivas e o imperialismo esperam poder acender a fogueira da guerra civil explorando eventuais excessos violentos da nossa polícia, para depois dizer que a justiça bolivariana é igual à das ditaduras. Por isso Chávez alertava: camaradas, nunca se esqueçam como foi montado e provocado o golpe de estado de 1999 para atiçar o povo contra nós e como foi justificado pela imprensa. Esta foi uma lição que não podemos esquecer, nunca”!

De fato, o Comandante Chávez tinha razão, porque nestes últimos dois anos e meio o objetivo dos ataques terroristas das guarimbas visava provocar um sangrento enfrentamento com a Polícia Metropolitana e, eventualmente, também com o Exército, para depois dizer que o governo chavista reprimiu barbaramente as manifestações públicas da oposição. Um cenário que permitiria ao “democrático” Barack Obama declarar que na Venezuela existe um latente clima de guerra civil, em função do qual os Estados Unidos deveriam intervir por motivos humanitários e para restabelecer a democracia.

Não é a primeira vez que a Casa Branca promove as chamadas “guerras humanitárias” para derrotar um país socialista. Por isso, quero lembrar que na primeira semana de maio o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe pediu que a OEA realizasse uma intervenção armada contra a Venezuela. Depois, no fim de maio o secretário geral da OEA, Luis Almagro, queria aplicar o artigo 20 da Carta Democrática para legitimar a intervenção militar com o objetivo de reconstruir a democracia.

Infelizmente, os grupelhos do dogmatismo sectário e as centúrias da burocracia esclerótica, muitas vezes corrupta, na Venezuela, mas também na Europa e, em particular, aqui na Itália, não querem entender este sério, verdadeiro e iminente perigo da possível invasão. Perdem tempo em besteiras para autopromoverem-se com uma inexistente sabedoria, enquanto passam o tempo tentando dividir o movimento e ignorando que o interesse real da Venezuela bolivariana é a unidade entre os revolucionários e não o protagonismo de A, B ou C.

Correio da Cidadania: Como reagia Chávez diante das manifestações de sectarismo político e do excesso de burocracia?

Luciano Vasapollo: Antes de tudo quero dizer que o Comandante Hugo Chávez era absolutamente contrário a todo tipo de sectarismo político. Da mesma forma procurava combater os personalismos da máquina administrativa, inclusive porque a corrupção começa sempre quando há uma excessiva distorção das normas administrativas ou quando se utiliza a burocracia para enveredar o caminho do protagonismo.

Chávez não gostava mesmo do sectarismo político e desconfiava bastante daqueles que vestiam a camisa vermelha do super-revolucionário somente para difamar, acusar e enlamear militantes chavistas ou sinceros revolucionários ligados ao destino da revolução bolivariana. Indivíduos e grupelhos que encontramos também aqui na Itália, onde a esquerda sofreu uma geral modificação e muitos setores ficaram profundamente corruptos, no momento em que abandonaram a ética da militância classista.

A este propósito quero lembrar a resposta que Chávez deu no programa Alô Presidente a alguns membros da chamada União Socialista dos Trabalhadores (3), afirmando que “o sectarismo mina a construção política do processo bolivariano, da mesma forma como na Itália o conceito gramsciano de sociedade civil, ou de bloco histórico, ou de hegemonia foram manipulados de tal maneira que, hoje, não representam mais o que Gramsci realmente entendia”.

Segundo Chávez, a lógica do protagonismo que visa à autopromoção e se coloca acima do processo revolucionário é mero sectarismo. Algo que, em breve, se torna asfixiante porque visa promover o individualismo e a chamada “nova elite revolucionária”. O processo revolucionário bolivariano é contra tudo isso, porque suas bases são os conceitos que regulam a democracia plural revolucionária, onde o respeito pelas ideias é um comportamento político de classe que alimenta o respeito pela ciência social da democracia participativa.

Vou fazer uma confissão: eu, no início, e também toda a nossa área política, tivemos dificuldade em entender a nova lógica de análise política revolucionária que Chávez formulou desde os primeiros anos de governo bolivariano. E esta nossa dificuldade não era intelectual, mas a visão eurocêntrica da esquerda italiana. Depois de sua morte e, sobretudo, nesses últimos dois anos, os cubanos demonstraram que o Comandante Chávez estava com a razão, quando a transição ao socialismo é um processo longo e complexo, que abrange também os setores da burguesia. Pois esta deverá reconhecer a centralidade da maioria formada pelo povo trabalhador. Assim, as acelerações do sectarismo político, sejam elas de grupo ou indivíduos, atrasam sempre a evolução do legado político chavista.

Correio da Cidadania: Nesse longo período de transição, o Estado e a democracia bolivariana devem se fechar para garantir sua defesa ou devem tentar de romper o cerco do imperialismo a fim de divulgar as experiências e as conquistas da revolução bolivariana?

Luciano Vasapollo: Atenção, não devemos confundir a defesa das conquistas revolucionárias com a divulgação dos princípios da transição, que regulam as atividades da revolução bolivariana. Quer dizer, é preciso seguir sempre as orientações de Chávez, segundo as quais a defesa da revolução bolivariana é um elemento orgânico da mesma transição ao socialismo e, antes de tudo, um elemento coletivo de massa.

Acredito que a divulgação dos princípios e das conquistas da revolução devem ser os mais amplos possíveis, porque é assim que se combate a cultura do individualismo burguês e as manipulações da mídia produzidas pelos jornais e as televisões ligadas ou dependentes das centrais do imperialismo.

Por outro lado, se nos fechamos em uma trincheira onde, no lugar de desenvolver a prática da democracia participativa, começamos com a “luta interna” para ganhar a chamada representatividade revolucionária, em pouco tempo se acaba por fazer o que a contrarrevolução quer, isto é, guerrear entre nós.

Devo dizer que Chávez, e hoje o presidente Maduro, sempre procuraram a unidade e o crescimento das forças revolucionárias, sem distinções e, sobretudo, no seio da sociedade venezuelana e em função da objetividade dos interesses de classe.

Correio da Cidadania: Na entrevista de 31 de julho com Cristina Gonzalez da Radio Nacional, que, na realidade é a principal voz revolucionária da Venezuela, você denunciou o comportamento de certa esquerda europeia sectária, extremista e, sobretudo, dogmática que, por trás das atividades da solidariedade com camisa e chapeuzinho vermelho, na realidade estaria criando vínculos com setores “democráticos”, porém, ambíguos. Poderia ser mais claro e direto nesse argumento?

Luciano Vasapollo: É verdade, na extensa entrevista da Radio Nacional, consegui expor o que não foi possível dizer nos 15 minutos da entrevista de Radio Sur. Por isso, eu bati de frente em um problema que não interessa somente à Itália ou à Venezuela. É um problema geral porque se trata do sectarismo de uma ultraesquerda que para ser visível agora está fazendo alianças com organizações milimétricas, que se movimentam fora do contexto das mobilizações classistas.

Por isso, personagens italianas, europeias e também venezuelanas atuam e se movimentam utilizando uma linguagem pseudorrevolucionária, para depois tentar impor os hipócritas objetivos dos progressistas a serviço da democracia burguesa.

Esta é uma atitude mesquinha! É a atitude do anão da política – num sentido figurativo e com o máximo respeito para quem é baixo de altura. Você se deve lembrar quando a Fiscalia Judiciária do aeroporto de Caracas foi vítima de uma “trampa” (engano) por parte da polícia colombiana, que por duas vezes conseguiu apresentar dois mandatos de extradição da Interpol contra pressupostos traficantes, quando, na realidade, no primeiro caso se tratava de um velho combatente das FARC exilado na Suécia e depois de um militante do ELN que vivia em Caracas. Assim, em toda a Europa apenas dois ou três grupelhos da ultraesquerda, minoritária e sectária, entre eles um italiano, escreveram um editorial emporcalhando os dois companheiros colombianos, além de apoiar a extradição às tenebrosas prisões da Colômbia.

Hoje, o verdadeiro problema é que o imperialismo – que não é um tigre de papel – utiliza suas antenas para mobilizar entidades intermediárias ligadas às concepções políticas burguesas, que estão longe das massas proletárias, mas atuam nas batalhas da burguesia para o respeito dos direitos humanos com o objetivo de abrir espaços às lideranças da esquerda minoritária e sectária.

Trata-se, portanto, de uma representação teatral para reforçar a imagem da oposição que diante desses cenários vai dizer: “afinal, também a esquerda está cansada de Maduro e até os grupos revolucionários não aguentam mais o chavismo”.

Parece uma terrível casualidade, porém, no mês de maio, quando na capital da Venezuela a oposição realizou numerosas manifestações, grupelhos de estudantes que se dizem trotskistas e maoístas foram à rua para manifestar contra o governo Maduro, juntando-se aos grupos da lumpenburguesia de Capriles.

Portanto, não devemos ficar pasmos se os congêneres europeus e italianos fazem o mesmo utilizando a rede para publicar as mesmas mentiras que os social-liberais da esquerda dizem e repetem.

Correio da Cidadania: Por que a Rete dei Comunisti diz que a esquerda eurocêntrica é o sujeito político que mais aceita as manipulações da mídia e a construção do polo imperialista europeu, baseado no eixo franco-alemão?

Luciano Vasapollo: A atual fase da globalização neoliberal favoreceu na esquerda reformista a aceitação e a afirmação do eurocentrismo. Um processo que se revelou o elemento perfeito para impor ao chamado Terceiro Mundo os conceitos que definem a hegemonia da União Europeia, enquanto centro político, econômico, financeiro, tecnológico, esportivo e cultural. Secundária, apenas, ao imperialismo dos Estados Unidos.

O drama político é que hoje todos os partidos europeus de centro-esquerda, da esquerda reformista ou daquela radical-ambientalista, juntamente com os partidos de esquerda que um dia assumiram posições revolucionárias, se tornaram, todos, partidos eurocêntricos. Assim, tudo o que não convém a estes partidos, grupelhos ou até personagens específicos é declarado impróprio, impraticável e inútil para o resto do mundo. Digamos que o eurocentrismo é uma espécie de dogma político através do qual todos os neocolonizadores da política, da economia e da cultura pretendem impor suas decisões aos partidos e aos movimentos populares do Terceiro Mundo. Na prática, o eurocentrismo é um meio para induzir as novas lideranças africanas, árabes e latino-americanas a aceitar, em silêncio, a relação de dependência com o imperialismo estadunidense e da União Europeia.

Entretanto, o erro mais grave cometido pelos partidos da esquerda eurocêntrica foi o de terem aceitado todas as distorções que surgiram durante a definição do bloco europeu. Distorções que foram provocadas unicamente pelo mercado e pelo neoliberalismo. É evidente que todos os partidos da esquerda eurocêntrica, apesar de uma fingida oposição de fachada, mantiveram o absoluto silêncio, sabendo que assim as portas do poder se abririam para eles. Por exemplo, na Itália este jogo de poder começou na década de 60, com os primeiros governos de centro-esquerda da Democracia Cristã com o Partido Socialista de Nenni e depois de Craxi. A seguir, tivemos o Compromisso Histórico e o eurocomunismo de Berlinguer. Agora, temos que aceitar o eixo franco-alemão diante do qual o PD de Napolitano, Bersani, Letta e por último Renzi permaneceram ajoelhados, juntamente aos pequenos partidos que se dizem comunistas.

Nestes últimos anos, a esquerda eurocêntrica fez de tudo para assumir o poder e ser considerada uma força “populista” capaz de frear e enjaular nos moldes do sistema neoliberal a autonomia da classe operária, a rebelião do proletariado juvenil. Quer dizer, a flexibilidade social e a precariedade no trabalho, bem como outras regras seletivas impostas pelo mercado.

Por isso, os teóricos da esquerda eurocêntrica, já em 1999, desqualificavam o programa de Justiça Social de Hugo Chávez, dizendo que era “um caso utópico do bonapartismo latino”. Algo semelhante foi feito com a revolução cubana por Giorgio Napolitano em 1979, quando (3) discursava nas universidades estadunidenses, desqualificando a revolução cubana e seu líder Fidel Castro, ”um líder de uma ditadura”. De fato não podemos esquecer que, em 1986, no PCI se consolidava a posição política de Giorgio Napolitano que sentenciava “plena e leal solidariedade da Itália com os Estados Unidos e a OTAN”. Não foi por acaso que, muitos anos depois, Henry Kissinger declarou que Napolitano foi “seu comunista preferido”(4).

Hoje temos o problema dos imigrantes, que na realidade é a nova escravidão da mão de obra barata. E por isso ninguém raciocina que o verdadeiro problema não são os imigrantes, mas as oligarquias que governam as sociedades africanas criadas pelo neocolonialismo nos anos 60, e depois reestruturadas na década de 90, para servir aos mercados e às centrais do poder neoliberal europeu e estadunidense. Por isso, para as “excelências” do mercado, o fluxo de imigrantes se reduz à quantificação de mão de obra africana ou árabe que poderá ser integrada no mundo do trabalho, para romper a organização de classe dos sindicatos, além de promover o crescimento da economia invisível (5) e, logicamente, fechar os olhos diante da multiplicação da dita economia ilegal (6).

As piores leis que nos últimos 20 anos prejudicaram os trabalhadores foram preparadas pelos economistas dos partidos da esquerda reformista e eurocêntrica. O Job Act na Itália e a Loi du Travail na França foram leis pensadas, propostas e votadas nos Parlamentos pelos partidos que ainda dizem ser de esquerda: o Partido Democrático de Renzi, a Confederação Sindical (CGIL) da senhora Susana Camusso e o Partido Socialista Francês de François Hollande. Um cenário que se torna ainda mais complicado se lembramos o que aconteceu na Grécia, em 2015, com Alexis Tsipras e os grupos eurocêntricos do Syriza associados à socialdemocracia alemã.

Correio da Cidadania: Por qual motivo a esquerda eurocêntrica, depois de ter inventado o social-liberalismo para destruir a luta de classe, nas eleições continua a captar a simpatia e a esperança de amplos setores operários e proletários, apesar das desilusões com Prodi, D’Alema, Letta e agora com Renzi?

Luciano Vasapollo: Tu falas apenas em simpatia e esperança. Justamente, não utiliza a palavra militância porque, hoje, como também nos anos 90, os partidos da esquerda eurocêntrica não recorrem mais à militância, visto que tudo que estava relacionado com a ideologia da luta de classe, sobretudo em termos culturais, virou imagem iconográfica. Um fenômeno que tivemos também na esquerda revolucionária. Imagine que na década de 90, se alguém em uma assembleia reivindicava a ideologia do comunismo, logo era etiquetado “stalinista de merda”.

Foi uma época em que os dirigentes de Rifondazione Comunista reinventavam o pacifismo, para desbotar o histórico revolucionário do proletariado italiano e, portanto, diluir nesse pacifismo sem nomes e sem fronteiras todo o potencial revolucionário que havia resistido aos efeitos negativos dos anos da contrarrevolução teleguiada pela dupla Democracia Cristã /Partido Comunista de Berlinguer e Napolitano. Além disso, tivemos 20 anos de domínio absoluto da Mediaset, isto é, o poder midiático criado por Berlusconi que, juntamente aos outros jornais, rádios e televisões conseguiram reduzir o espírito de luta das massas operárias e proletárias e transformá-lo em simples simpatia para quem diz que foi um defensor dos oprimidos e em mera esperança, visto que o povo quer agarrar-se em qualquer coisa para sonhar um futuro melhor.

Hoje, o PD de Renzi é o principal partido que se contrapõe e persegue os grupos políticos que procuram organizar o conflito de classe, transformando o território e a fábrica em novas áreas de luta. De fato, durante os governos da direita (Forza Itália, de Berlusconi, e La Lega, de Bossi), havia uma intensa repressão policial e jurídica com centenas e centenas de denúncias e prisões por resistência em público, ocupação, agressão etc. Hoje, o governo do PD decidiu inverter a metodologia da repressão. Assim, no lugar de usar os carabineiros recorrem aos oficiais dos Tribunais para selar as cozinhas e os bares dos centros sociais, que são entidades autogeridas pelos jovens. Intervêm nos municípios pedindo para cortar os contratos com as cooperativas ou as associações ligadas ao movimento popular e suas organizações de esquerda revolucionária.

Enfim, entenderam que a esquerda alternativa, a esquerda revolucionária e o movimento popular, tinham criado um espaço próprio que, além de dar trabalho, desenvolve as atividades políticas nos territórios e cria novos vínculos de militância com os moradores dos bairros, em particular os jovens proletários e os imigrantes. Por isso começaram a desmontar, em silêncio e com a cumplicidade da mídia, os principais organismos populares, isto é, os centros sociais.

Correio da Cidadania: Você e a Rete dei Comunisti publicaram vários livros sobre o “Eurochavismo”. Afinal, é simples emulação de Hugo Chávez ou é algo de mais profundo que em termos ideológicos trabalha os conceitos de Justiça Social do chavismo, o Homem Novo de Guevara e o Intelectual Orgânico de Gramsci?

Luciano Vasapollo: Quando publicamos livros, assinamos artigos ou concedemos entrevistas, fazendo comparações com as experiências bolivarianas ou da Cuba socialista tentamos sempre transmitir aos camaradas que leem os elementos da teoria do conflito de classe vivenciados naqueles países. Portanto, não se trata de uma emulação pura e simples do Comandante Hugo Chávez. A revolução bolivariana é autenticamente venezuelana e não pode ser exportada enquanto tal. É suficiente analisar a evolução dos países do ALBA para ver que a experiência bolivariana é, apenas, uma referência histórica e ideológica porque o restante é devidamente boliviano, equatoriano, sandinista e cubano.

O conceito a que chamamos eurochavismo é politicamente útil para identificar uma série de elementos políticos e ideológicos que para nós marxistas e comunistas europeus se apresentam como uma novidade.

Elementos que se encontram na teoria de Martí, de Bolívar, de Guevara, de Fidel e também em Gramsci. Por isso, são elementos necessários para atualizar o universo de luta contra o imperialismo, contra o capitalismo e em favor do socialismo. Por exemplo, a batalha do governo chavista para defender a soberania nacional e tudo o que ela representa para o povo venezuelano se contrapor diretamente à estratégia do imperialismo, na realidade é o único exemplo vivente e vitorioso que temos nos últimos quinze anos.

Além disso, a maneira como o governo chavista introduziu na sociedade venezuelana a luta contra o neoliberalismo econômico e contra a exploração dos trabalhadores permite avaliar se a alternativa a isso, representada pelas novas formas de organizar as cooperativas e as empresas socialistas, resultam elementos complementares entre o nosso sistema e o que foi feito na Venezuela. Isto não significa copiar, mas, sim, entender se também aqui no meio da Europa é possível introduzir e desenvolver novos processos de luta anticapitalista.

Por outro lado, o eurochavismo pode ser visto como uma nova concepção revolucionária com a qual vamos redefinir e reorganizar a militância e suas relações com a classe que trabalha, que estuda, que é explorada ou marginalizada. Um contexto que obriga esta nova militância a fazer frente aos efeitos da crise do sistema capitalista moderno, desenvolvendo uma série de lutas que, lentamente, constroem as novas realidades do contrapoder. Um contexto onde nasce o que Guevara chamava de Homem Novo e o que Gramsci identificava com a afirmação do Intelectual Orgânico.

Na prática, o eurochavismo é a nova conceituação do ser revolucionário que se afirma nas lutas sociais e classistas. É uma nova forma de fazer política no seio das novas realidades de nossa sociedade, sem ser uma mera utopia. Portanto, representa a realidade dinâmica do nosso presente no seio das problemáticas provocadas pelos conflitos de classe e consequentemente constrói o futuro com um olhar no passado e no processo real dos acontecimentos históricos. A este propósito quero lembrar que se na Itália a editora do PCI, Editori Riuniti, limitava o estudo de Gramsci a poucos livros, ideologicamente inócuos para o reformismo eurocêntrico, a editora Feltrinelli publicava somente os textos épicos de Guevara.

Enquanto isso, na América Latina estes dois autores foram analisados e estudados profundamente, criando assim um vasto interesse sobre a práxis revolucionária. De fato, não foi casual que Hugo Chávez, em suas reflexões, trabalhou os conceitos do guevarismo e, sobretudo, os de Gramsci, com os quais vai construir uma nova metodologia de análise revolucionária, que partindo da reconquista da soberania revolucionária popular, define os aspectos para a construção da nova sociedade, até a definição dos direitos das minorias, enquanto sujeitos da classe.

Quero concluir lembrando que as dinâmicas do materialismo histórico, na real afirmação dos conflitos de classe, determinarão os caminhos dos acontecimentos históricos, como sempre afirmava a querida Margherita Hack, secundo a qual “muitas vezes, hoje, é muito fácil conseguir tudo e fazer com que se torne uma verdadeira paixão”.

  
NOTAS

1) Caracazo: foi a grande revolta popular que explodiu em 28 de fevereiro 1998 e se concluiu em 5 de março, quando o governo de “centro-esquerda” reprimiu matando cerca de 3.000 manifestantes, para depois dizer que os mortos foram apenas 110.

2) USL: União Socialista dos Trabalhadores, é um grupinho minoritário da extrema esquerda venezuelana, que acha ser o único “super revolucionário” do planeta Terra.

3) Giorgio Napolitano: em 1978, o ministro da Democracia Cristã, Giulio Andreotti, ajudou o responsável da política econômica do PCI, Giorgio Napolitano, a obter o visto dos EUA, para depois, em 1979, realizar as conferências nas Universidades de Harvard, Yale, Chicago, Berkeley, Johns Hopkins-SAIS e CSIS de Washington.

4) Kissinger: Em 2001, o jornal “Il Corriere della Será”, revelou o relacionamento entre Napolitano e Kissinger no artigo “E Kissinger incontra il suo comunista preferito”. Corriere della Será de 09/10/2001 http://archiviostorico.corriere.it/2001/settembre

5) Economia invisível: são os contratos em “negro”, os ritmos de trabalhos alterados, a ausência de garantias e medidas de segurança no trabalho. Um cenário que permite a produção de mercadorias com normas e nomes falsificados ou com matérias primas adulteradas.

6) Economia ilegal: é a organização de circuitos para o transporte e a venda de drogas, de armas e de todos os produtos que se relacionam com o contrabando, juntamente a prostituição feminina e masculina e tudo que provém das  atividades ilegais.

Luciano Vasapollo: 61 anos, é professor de Análise de Dados de Economia Aplicada na Universidade de Roma “La Sapienza”, onde desempenha a função de Delegado do Reitor para Relações Internacionais com os países da ALBA e da América Latina. É professor em Cuba nas universidade de La Habana e Piñar del Río.

Grande estudioso do marxismo, juntamente a Atílio Boron (Argentina) Ricardo Antunes (Brasil) e James Petras (EUA), é considerado um dos poucos teóricos que enfrentaram o problema da modernidade revolucionária do marxismo. Por isso, os quatro foram convidados por Fidel Castro e Hugo Chávez para identificar o potencial político da ALBA.

Escreveu 18 livros, sendo coautor de outros 32. Na juventude foi militante do grupo Potere Operaio, em Roma. Em 1998, foi um dos fundadores da organização política e revolucionária Rete dei Comunisti. Depois integrou o movimento participando em todas as lutas dos sindicatos de base, contribuindo em 2010 na fundação da União Sindical de Base (USB), a confederação sindical independente, filiada na FSM.

(*) Achille Lollo é jornalista italiano do jornal “Contropiano”, editor do programa TV “Contrappunto Internazionale”, colabora com a revista “Nuestra América” e é colunista internacional do “Correio da Cidadania”.

(Com o Correio da Cidadania)

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