Projeto de Hillary, a rainha da guerra

                                                                        
 Pepe Escobar 

Pode alguém pensar que Hillary na Casa Branca seria menos perigosa para a humanidade do que Trump? A pergunta é pertinente. Hillary atuaria na presidência como fiel servidora da aliança dos EUA com Israel e a Arábia Saudita.

Pepe Escobar comenta neste polémico artigo os contatos secretos da Arábia Saudita com Israel, e reflete sobre a complexa estratégia que envolve as relações entre a Rússia, o Irão e a Turquia.
Oxalá as suas previsões assustadoras sejam desmentidas pelo rumo da História.

Tudo começou com uma repentina estória de amor wahabita-sionista.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita foi obrigado a desmentir a notícia da visita a Israel no dia 22 de Junho de uma delegação saudita chefiada pelo general reformado Anwar Eshki.

Eshki- íntimo colaborador da superestrela da inteligência saudita, o príncipe Turki bin Fais, que foi amigo de Osama Bin Laden - reuniu-se com os chefes principais das Forças de Defesa de Israel (FDI),os generais Yaakov Amidror y Amos Yadlin e com Dore Gold, diretora geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros e o general Yoav Mordechi, comandante das FDI na Cisjordânia.

É pouco provável que este tipo de reuniões de alto nível seja decidido somente pela família saudita. Certamente o Ministério do Interior saudita continua proibindo viagens a Israel, ao Irão e ao Iraque. A visita do general Ehski, dificilmente se pode qualificar de «viagem de turismo».

O que se está então a passar? Os israelenses afirmam que os sauditas – que lideram a Liga Árabe – oferecem normalizar as relações sem que Israel ceda um milímetro na frente palestina. A única coisa que Israel teria que fazer mais tarde seria adotar a iniciativa de paz árabe proposta em 2002.

Isso não tem qualquer sentido. A direita ultra-sionista, no poder em Tel Aviv, nunca aceitará o regresso às fronteiras anteriores a 1967 e jamais reconhecerá um estado palestiniano.

O que «discutiram » foi um «não compromisso». Segundo Tel Aviv, importantes estados árabes estão dispostos a negociar uma normalização de relações apesar de «não termos renunciado a uma polegada dos territórios ocupados na Cisjordânia e inclusive continuarmos a controlar a Mesquita de Al- Aqsa».

Se a Liga Árabe concordasse com uma loucura dessas, empurrando os palestinianos para debaixo das escavadoras israelenses, o mais provável seria que os reis e oligarcas das petro monarquias teriam de reservar um bilhete de ida para Londres.

UMA ALIANÇA MOSCOVO-TEHERAN - ANKARA?

Não obstante parecer absurdo um acordo deste tipo (que terão discutido os israelitas com os sauditas?) é evidente que debateram uma estratégia comum perante a perspetiva iminente de que a «rainha da guerra» tome posse da Casa Branca.

Sob a Administração Obama, tanto Bibi Netanyahu, em Tel Aviv, como o príncipe da guerra Mohamed Bin Salman, em Riad, foram reduzidos à eufemística condição de «aliados distantes».

Embora sejam efetivamente aliados nenhum deles poderia admiti-lo publicamente nos seus países. Ambos sabem que se os Estados Unidos forem governados pela «rainha da guerra» haverá outra… guerra. A pergunta é: contra quem será desencadeada?

Fontes de inteligência bem informadas especulam que o objetivo é o Irão, inimigo comum de Israel e dos sauditas. Mas a questão não é tão simples porque a estratégia conjunta de Israel e da Arábia Saudita para o Médio Oriente está em ruínas.Teheran não caiu no pântano do Iraque e da Síria. Nesses países estão a ser derrotados tanto o ISIS como a sua retaguarda de «rebeldes moderados» que contam com o apoio secreto do eixo Arábia-Israel. Pelo seu lado, o agressivo príncipe bin Salman foi apanhado na sua própria armadilha no Iémen, numa guerra que não pode vencer.

Além disso, temos a espetacular viragem política, após o golpe na Turquia, do Sultão Erdogan que na prática significa o fim da exclusão aérea e o abandono dos sonhos neo-otomanos da anexação de uma Síria pós Assad.

Os sauditas coram de raiva quando ouvem dizer que diplomatas turcos começaram a difundir uma «superprodução»: Erdogan teria proposto ao líder do Irão, Hassan Rohani, uma ampla coligação, para romper o quebra-cabeças do Médio Oriente, coligação que poderia contar com o presidente Putin.
Qualquer que seja a errática agenda de Erdogan - o possível acordo para quebrar o gelo entre Moscovo e Ancara - ela foi debatida por Putin e o presidente turco.

Todos os sinais geopolíticos passam por esse terreno. A tentativa de uma aliança Russia-Irão- Turquia fez reaparecer o medo na monarquia Saudita, que desta vez e sem tabus pretende ganhar a confiança de Moscovo, oferecendo «incalculáveis riquezas» e um acesso privilegiado aos mercados dos países do Golfo.

Segundo confirmaram fontes da inteligência ocidental, «os sauditas estão promovendo a aproximação com o Kremlin». O rei saudita, que está em Tanger, reuniu-se ali com uma delegação russa. Essas fontes podem dizer o que bem entenderem, mas Putin não abandonará Assad. Têm um compromisso. Necessitam um do outro.

O presidente Putin está numa posição favorável. Mesmo que recuse a oferta saudita – que é uma promessa sem garantias firmes - a Rússia tem as melhores cartas. Uma aliança Moscovo-Teheran- Ancara seria obviamente problemática mas não impossível porque conduziria a uma integração euro-asiática, com lugar para a Turquia e o irão no Conselho de Cooperação de Xangai (OCS).

Uma aliança saudita – Moscovo, por outro lado, conduziria inevitavelmente a que «a rainha da guerra» tentasse derrubar o regime de Riad, com a máscara de «R2P» (responsabilidade de proteção da população saudita). Ideia similar foi aliás defendida na ONU pela compincha de Hillary, Samantha Power.

TRÊS ARPIAS

Os instintos bélicos da «rainha» empurram-na par um ataque ao Irão. O plano de guerra de Hillary encontra-se num documento intitulado «Como expandir o poder dos Estados Unidos», perigosa mistura de políticas neoconservadoras e «neoliberais neocons». O documento lembra o PNAC (Projeto para o Novo Século Americano). Pobremente mascarado, com uma retórica tranquilizante sobre uma «ordem internacional baseada em regras», é um eco das instruções de Guerra dos EUA do ano l992.

Esse documento da CNA foi encomendado por três personagens a que chamo «as três arpias»: Hillary Clinton, Michelle Flournoy, da CNA, e a «chanceler» Victoria Nuland.

É possível que esse trio letal conduza muito em breve a política exterior da terceira Administração Clinton na Casa Branca.

Se a equipa de campanha de Trump conseguisse conter «a obscena boca do seu candidato» e este centrasse o seu discurso na denúncia do que significa para os EUA e para o mundo esse documento, a informação chegaria a milhões de votantes indecisos do seu país.

HILLARY NÃO IRÁ ATÉ À GUERRA COM A RÚSSIA

Apesar das suas bravatas, a Dominatrix Americana não esta tao louca que decida iniciar uma guerra – inevitavelmente nuclear- contra a Rússia (usando o Báltico como pretexto) ou contra a China (usando o Mar do Sul da China como pretexto).

Enquanto Erdogan pode tornar a vida insuportável à NATO na Turquia, na Síria os criminosos da Al Qaeda, apresentados como «rebeldes moderados» estarão na maioria, em janeiro de 2017, em baixo de seis pés de terra.Mas como «a rainha da guerra» está no bolso da AIPAC (O Comité Americano Israelense de Assuntos Públicos) e a Fundação Clinton é mantida pelos donativos da dinastia saudita, objetivo da guerra somente pode ser mesmo o objetivo militar de Israel e da Arábia Saudita: o Irão.

Qual seria a forma de empreender a guerra? Uma das vias sugerida literalmente - é o bombardeamento do programa nuclear do Irão. Os meios de comunicação dos EUA já estão a desenvolver uma campanha, bem coordenada, cujo objetivo é enterrar qualquer acordo de paz.

Segundo media norte-americanos, o líder supremo iraniano ayatollah Kamenei, afirmou que não se pode confiar em Washington: «Dizem-nos: vamos falar dos problemas regionais, mas a experiência do acordo nuclear sugere que isso é um veneno mortal. De modo algum se pode confiar nos Estados Unidos».
O que a equipa de Hillary espera - primeiro com um bombardeamento através dos media repleto de acusações sem fundamento, e, depois, agitando uma «necessária falsa bandeira» - é que Teheran caia na armadilha e retome o seu programa nuclear. Obviamente isso não vai acontecer. Mas esse ataque «infernal» de desinformação será esgrimido como prova no Congresso dos EUA pelo lobby anti iraniano. Mas é apenas uma alucinação ou uma expressão dos desejos «neocons».

Tudo isto enquanto o Irão está planeando um novo corredor de comércio desde o Golfo Pérsico até ao Mar Negro, que englobaria a Arménia, a Geórgia e a Bulgária. Essa rota faria do estado persa um centro comercial chave para ligar pelo sul e ocidente o mundo muçulmano à Europa (a Ásia Central pelo Norte, e o Afeganistão e o Paquistão pelo leste). 

A integração euroasiática entraria em movimento, Teheran tem muitos motivos pra estar em alerta vermelho se a Comandante Hillary tiver nas mãos os códigos nucleares (como pode alguém pensar que é menos temível do que do que Trump?) A Dominatrix atuaria como fiel servidora da aliança de Israel com a Arábia Saudita. O Plano está pronto.

Tanto os neoconservadores como os «neoliberaiscons» mal conseguem conter a sua emoção ao verificar que o plano elaborado pelo CNA acionaria «uma força capaz de ganhar a batalha em múltiplas frentes».

Fonte http://mundo.sputniknews.com

Tradução de odiario.info

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