A luta dos jornalistas contra os abusos dos Diários Associados (Esta matéria está no site do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.Transcrevo-a porque desde menino, em Nova Lima, aprendi a ser solidário com a luta de todos os trabalhadores, acompanhando as campanhas dos mineiros da Morro Velho. José Carlos Alexandre, membro da Velha Guarda do PCB)


                                                                            
"Quem observa de fora o movimento de luta – aliás, preservação dos direitos! – que os funcionários dos Diários Associados (Estado de Minas, TV Alterosa e portais Uai e em.com.br) estão empenhados pode ter dificuldade de compreender a série de abusos e absurdos a que os trabalhadores estão submetidos. Vamos explicar neste texto.

O 7 de abril, que deveria de ser de festa, destinado a celebrar a profissão do jornalista, foi marcado por um sem fim de abusos e tentativas de impor a redução salarial de 30%, sem nenhuma contrapartida. A ação, digna das piores esquetes, foi toda orquestrada pelo diretor-executivo dos Diários Associados, Geraldo Teixeira da Costa Neto, o Zeca, herdeiro da empresa que nunca foi da família dele.

Zeca enviou ao Sindicato dos Jornalistas um grupo de funcionários em cargos de confiança e do setor administrativo para tentar convencer – no grito – da necessidade de redução dos salários. O cúmulo do nonsense. Funcionários acorrendo ao sindicato para exigir que seus salários sejam reduzidos.

Tentaram prevalecer, após ganharem carona em kombis da empresa para irem até a Casa do Jornalista, mas após uma longa e detalhada exposição dos dirigentes sindicais, que incluiu noções básicas de direitos trabalhistas, entenderam que a redução não pode ser imposta da forma como imaginavam, sentados no conforto das suas cadeiras e com os bolsos fornidos de salários bem acima da média do restante da empresa.

Foi discutido e exposto a esse grupo enviado pelo diretor-executivo dos Associados, que a redução só pode começar a ser negociada se várias premissas favoráveis aos trabalhadores forem levadas em conta. São elas:

– Estabilidade;

– Prazo predeterminado para a redução salarial;

– Pagamento de uma indenização e acerto de todos débitos e benefícios trabalhistas atrasados, como décimo terceiro e salários ainda não pagos.

O grupo enviado por Zeca assinou uma lista manifestando se concordava ou não com as premissas apontadas pelo sindicato. Para surpresa do diretor dos Diários Associados, seus enviados especiais votaram a favor da proposta do sindicato.

Porém, em uma jogada que surpreende até os mais inventivos roteiristas das óperas bufas canastronas, a ata da reunião, com a assinatura dos presentes, foi surrupiada.

Qual a razão?

O envio do grupo de apaniguados era uma esperança de Zeca tentar impor suas vontades, diante da incapacidade de gerir a empresa e conseguir arcar com compromissos trabalhistas. O diretor-executivo, herdeiro do grupo que nunca foi de sua família, quer passar a conta de uma infinidade de falhas administrativas e gerencias para seus funcionários.

Um repórter I, por exemplo, que recebe cerca de R$ 4 mil líquidos passaria a receber R$ 2,8 mil. Vale destacar que a redução não foi combinada com a escola dos filhos, supermercado, síndico do prédio, Cemig, Copasa e demais boletos que, inevitavelmente, chegam todos os meses.

Para o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais isso é inaceitável. É um posição firme e sem chance de mudança. O sindicato não negocia e nem vai negociar a perda de direitos.

O que embasa essa posição do SJPMG é uma votação transparente e abrangente realizada na porta das sedes das empresas dos Diários Associados. Em urnas lacradas e aferidas por um membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Minas Gerais (OAB-MG) no dia quatro de abril. A empresa foi convidada a conferir as urnas, mas se negou a enviar representante.

A votação foi aberta a todos os funcionários, que puderam dizer se concordavam ou não com a redução. Entre os jornalistas do Estado de Minas e Alterosa, 95% não concordaram. Foram 97 votos contra a redução e cinco favoráveis. Na administração, a proposta foi recusada por 143 votos, contra 63 favoráveis, o que representa 69% de rejeição. Não houve votos em branco. No total de votantes, o corte de 30% dos salários proposto pelo grupo – sem garantia de estabilidade, sem indenização e por prazo indeterminado – foi rejeitado por 78% dos votantes.

Diante da acachapante derrota, Zeca armou a ópera bufa de presente de grego para os jornalistas no dia que é celebrada a categoria. Zeca, porém, não imaginava que seria derrotado novamente, justamente por aqueles que julgava serem de sua confiança.

O roubo da lista – registrado em ocorrência policial – foi o que restou. Dando sequência às estratagemas, Zeca enviou os mesmos que haviam aceitado a contraproposta do SJPMG novamente à Casa do Jornalista para tentarem votar de novo e, assim, fazerem valer o desejo do diretor-herdeiro-do-que-nunca-foi-de-sua-família. O SJPMG decidiu, então, cancelar as assembleias marcadas para 18h e 20h.

Vale lembrar que a luta dos jornalistas se intensificou no final de dezembro, quando o décimo terceiro salário não foi pago. Isso, somado a outros atrasos trabalhistas, levou os jornalistas a paralisar os trabalhos na TV Alterosa e no Jornal Estado de Minas.

Desde o dia 14 de março o jornal usa as demissões para intimidar os grevistas. Os cortes na empresa, desde então, chegam a quase 80 funcionários, sendo que os grevistas foram os alvos principais do passaralho.

Logo após as demissões, com o clima na empresa péssimo e os funcionários cabisbaixos, veio a imposição de redução de 30% do salário. A ameaça foi clara: quem não aceitar será demitido e o pagamento dos direitos trabalhistas pode levar até 30 meses em agonizantes parcelas.

Vamos lutar para que Zeca não consiga fazer os funcionários pagarem a conta de sua falta de capacidade administrativa. Também pedimos que toda a sociedade compartilhe essa nota e ajude a salvar o Estado de Minas e a TV Alterosa. A história da empresa e o suor dos profissionais que trabalham e trabalharam lá são nobres demais para serem desonrados por um diretor que já mostrou inúmeras vezes que não tem capacidade de administrar a empresa."

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