Reflexão sobre as eleições regionais na França

                                                                               
Os resultados já apurados das eleições regionais em França indicam que a extrema-direita não obteve a maioria em nenhuma das regiões. O maior número de regiões foi ganho pelo conjunto de forças encabeçado por Sarkozy (LR, UDI, MODEM), as restantes pelo PSF e aliados. A mobilização para deter a extrema-direita traduz-se numa vitória da direita.

Nem a vitória da direita é de saudar, nem muito menos deverá fazer esquecer os resultados da primeira volta, com os fascistas do Front National como força mais votada. Este resultado, em que têm peso determinante as características do sistema eleitoral francês, dá aliás expressão institucional a uma situação que, longe de amortecer os factores de crise política e democrática, os poderá ainda agudizar.

Porque, em resultado da engenharia eleitoral dessa democracia burguesa, se traduz em que a força política com maior expressão eleitoral em França (e que aumentou o número de votos da primeira para a segunda volta) obtenha uma reduzida expressão institucional, nas regiões como no parlamento.

Pode a “frente republicana” saudar e festejar tal facto, certamente importante. Mas a questão real que este resultado não resolve é como atingiram tal apoio eleitoral os fascistas do Front National. E, pior ainda, como atingiram tal apoio entre a classe operária, a juventude, as camadas populares, os extractos empobrecidos e marginalizados da sociedade. A reflexão sobre as razões desse apoio não é apenas tarefa do povo francês.

Não é esta Nota o lugar para aprofundar essa reflexão. Todavia, importa recordar que o crescimento e a implantação eleitoral de forças de extrema-direita e fascistas se verificam em numerosos países europeus. Que assume forte expressão em França, Hungria, Áustria, Suécia, Finlândia, Holanda, Países Bálticos. Que assume expressão significativa em Itália, Grécia, Bulgária. Que, apoiada pelo imperialismo, tomou o poder na Ucrânia, e assume responsabilidades de governo em outros países.

Essa situação não é separável de alguns factos fundamentais: a queda dos regimes socialistas do Leste europeu, que abriu espaço à instalação no poder de forças de extrema-direita, revanchistas e fanaticamente anticomunistas, que o imperialismo incentivou antes e cujos governos apoiou e apoia; as agressões imperialistas nos Balcãs, no Norte de África, no Médio Oriente, destruindo países e Estados, fomentando guerras civis, instalando a guerra como método de resolução de conflitos; o crescente securitarismo, militarismo e belicismo das grandes potências capitalistas, da UE, e a agressividade da NATO; a aguda e prolongada crise capitalista sem fim à vista, atingindo duramente a UE dos monopólios, com as suas bárbaras medidas de “austeridade”, de empobrecimento e de exploração, com o desemprego, a precariedade, a emigração, a ausência de expectativas de futuro para centenas de milhões de trabalhadores. E ainda o trágico enfraquecimento político, ideológico e orgânico e a desarticulação do movimento operário.

A questão com que os trabalhadores e os povos estão confrontados não se centra em deter a extrema-direita. A lição da História é que o que derrotará hoje e amanhã a extrema-direita e os fascistas é o que os derrotou antes: a unidade dos democratas, a unidade dos trabalhadores, a unidade dos povos, a unidade dos partidários da paz. E essa unidade não pode ter como base senão a perspectiva da transformação revolucionária da sociedade.

Os Editores de odiario.info

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